O local perfeito para viver?
Seria numa serra com um oceano a ocidente. Uma serra coberta com uma mata verde e densa de pinheiros e carvalhos. Perto do cume da serra ha uma cidade. Uma cidade de ruas inclinadas. Os edificios sao quase todos herança dos finais do seculo XIX. Todos com quatro ou cinco andares, fachadas elaboradas, janelas amplas. Um pouco por toda a cidade ha jardins de frutos silvestres: amoras, morangos, framboesas. Ha duas grandes avenidas, tortas, sinuosas, repletas de lojas com as novidades do resto do mundo. Ha restaurantes, cinemas, teatros, pubs e clubes privados. Ha uma rua cheia de bibliotecas, livrarias e alfarrabistas. Outra tem gelatarias, padarias, doçarias e pastelarias. Toda uma variedade de ofertas: cores, odores, sabores e formas. Um labirinto de sensações. Não ha automoveis. As ruas sao irregulares demais para haver transito. Todos os habitantes usam biciletas ou coches a cavalo. No lado menos ingrema da cidade ha uma estaçao ferroviaria, por onde chegam as novidades. A estação é grandiosa, com grandes painéis envidraçados e estruturas em ferro.
No cume da montanha ha um castelo de tradição mudejar, com tres cupulas vermelhas e quatro blocos assimetricos com azuleijos esverdeados. No seu interior funciona uma casa de cha, com pequenas salas particulares com bergeres estofadas e candeeiros marroquinos.
Ha um cemitério, junto á escosta virada a ocidente, descendo pelas escarpas atre ao mar. Um cemiterio branco, um labirinto de jazigos e estatuas de anjos. Nao ha igrejas, nao ha templos, não ha religião.
Na tardes de inverno a serra enche-se de um nevoeiro cerrado. O ceu cobre-se de corvos e nas ruas expande-se o cheiro a chocolate quente.
Ha um senão: na colina mais a sul existe um sanatório, um enorme edificio neoclassico, de fachada equilibrada e colunas dóricas. O sanatório funciona como um hospital. Como a medicina avançou ao limita não ha necessidade de hospitais no centro das cidades. So os casos mais extremos sao levados para estes locais.
Eu moro num apartamento peto do centro da cidade, um terceiro andar, com elevador de gradeamento em ferro. A casa tem um pe direito de tres metros, com tectos estucados e rodapes em madeira com 30 centimetros de altura. Tem tres janelas abertas sobre a praça. Uma luz sempre outonal: acastanhada com reflexos de nostalgia.