Fiquei feliz por perceber uma discussão entusiasmada por aqui, o que me levou a uma reflexão sobre o tema.
Na verdade é possivel perceber algum debate público sobre a crise e o que deve mudar. Refiro porém "algum debate" porque não se vê uma acção coordenada de movimentos civicos que promovam esta discussão.
Para começar é importante perceber que estamos a debater Portugalnum contexto Europeu e é aqui que nos devemos focar. Ao mesmo tempo devemos definir linhas que nos guiem na formulação de ideias. Assim, considero importante referir:
- As divergências e convergências da UE
- O euro como projecto político
- As políticas de regulação definidas pela UE
- A PAC
- A falta de estruturas e abertura das Universidades, de docentes e estudantes, para a criação de grupos de discussão e tertúlias
- A fraca coordenação de movimentos civicos e mesmo a fraca promoção do debate
- O déficit de informação sobre a UE
- A falta de informação e interesse generalizados
Assim, a discussão de hoje não é só sobre o Estado social ou Estado mínimo, mas é muito mais abrangente e fora das teorias. Penso assim que é importante e pertinente perguntar, será que existe uma nova consciência social depois da crise de 2008?
Penso que este pode ser um bom ponto de partida para um debate para o qual espero ver algum interesse e abertura de discussão 
Tusk, sinteticamente, faria dois comentários:
1) Tenho algumas dúvidas que, como escreves,
no contexto português, a discussão de hoje não deva ser sobre o Estado social de modelo europeu (ainda entendido como Estado de bem-estar) ou sobre um Estado mais reduzido (que, naturalmente, não tem de chegar a um nozickiano Estado mínimo ou minimalista). A verdade é que me parece que o imaginário dos portugueses ainda se alimenta de socialidades muito pouco discutidas e criticadas, que influenciam posições públicas, políticas e tentativas de manter irrealisticamente status quo. Além disso, contrariamente a outros países europeus (e, por conhecimento de causa, penso à cabeça na Alemanha), Portugal só agora está a entrar exactamente na fase de crítica ao Estado Social (livros, documentos oficiais, relatórios), embora até ao momento, segundo minha opinião, se observe uma crítica meramente relacionada com a vertente económica da coisa (o que se circunscreve a dimensões de eficácia ou sustentabilidade, que supostamente sempre se poderiam afastar se a situação económica melhorasse ou se houvesse mais crescimento e riqueza produzida), deixando de parte uma crítica das assunções epistemológicas e cognitivas que o núcleo de ideias subjacente ao Estado social implica.
2) Acho essa questão sobre se há uma nova consciência social depois da crise fundamental e fundamental também no contexto português. Claro que convém destrinçar bem a que crise nos estamos a reportar: tens o início de uma crise financeira em 2008 com o Lehmann, que acabou por se transmutar numa crise da dívida soberana de certos Estados europeus por razões absolutamente distintas daquilo que eram os problemas no sector financeiro. De qualquer das formas, atendendo às nossas circunstâncias actuais em que se impõe reconceptualizar toda a estrutura do nosso Estado nacional, a verdade é que pelo que vou lendo, vendo e ouvindo, a maior parte das pessoas parece-me recusar-se a dar o passo ou a fazer a transição para uma nova consciência acerca da estadualidade, das funções do Estado, do papel do Estado na sociedade, etc. E refiro-me inclusivamente às camadas ditas intelectuais. Por exemplo, é absolutamente deprimente ir a alguns colóquios com professores universitários de certas áreas e de certa idade: goza-se com a Alemanha porque basicamente não nos dá o dinheiro que nós queremos para abafar os erros de anos e anos de uma democracia que funcionou empiricamente de forma perversa, ninguém assume culpas apesar de muitos deles terem sido protagonistas activos da condução política do país nas últimas três décadas e ainda se mantém o discurso de que tudo poderia ser de outro modo menos radical - meaning: mudem tudo para tudo ficar igual.
Em suma, acho que há um grande caminho ainda que a nossa "opinião pública" tem de percorrer.