Fenixx: infelizmente há histórias assim. Nem sei o que te diga. Creio que realmente o melhor é construires a tua vida, e quando o puderes, vivê-la da maneira que te faça feliz. É triste quando os nossos pais nem sequer conversam connosco. Porque, por mais que nós sejamos seu filhos, somos também seres, independentes, com vontades próprias, com sentimentos próprios, com uma percepção da vida própria. E como nos podem conhecer, amar, se não conversam connosco? Só porque somos filhos deles? Não creio. Pelo menos, não só!
A comunicação (saudável) é das coisas mais importantes em qualquer relação, seja fraternal, de amizade, amorosa, profissional, etc etc...
Sem isso nem conseguimos conhecer os outros, nem deixar que nos conheçam a nós. E quer queiramos quer não, vivemos em sociedade.
Nicsparks: foi uma atitude muito corajosa, parabéns. Deixar tudo e todos os que conhecemos e amamos para vivermos o que sentimos ao lado daquela pessoa que nos completa é daquelas coisas que raramente se vê hoje em dia. Até mesmo no contexto heterossexual, onde cada vez reina mais o contentamento. Não nos devemos contentar com algo que não nos preenche e sim trabalhar pelo que queremos e merecemos e desejamos!
In full. Contentamento é para os pobres de espírito

Tedesco: acho linda a relação que tens com o teu pai. Deve ser uma pessoa realmente especial. Parabéns.
Eu, pessoalmente, contei em primeiro lugar, à minha irmã, 6 anos mais velha que eu, a qual me perguntou se tinha a certeza do que lhe dizia. Na altura, andava um pouco confusa, pois como podia eu ter a certeza de algo que era tão novo e tão confuso? Disse-lhe que ainda não, mas que também não podia negar mais o que sentia. E sentia-me completamente apaixonada por uma amiga minha (a primeira lésbica que conheci).
Perguntei-lhe o que ela achava que os meus pais iriam pensar do assunto (mais do que o meu pai iria pensar, do que o que a minha mãe pensava, pois sabia exactamente que ela iria ter uma reacção muito negativa). Como previa, disse que a minha mãe iria reagir muito mal, e que o meu pai ainda reagiria pior... isto foi uma surpresa para mim, pois nunca pensei que o meu pai fosse ainda mais radical que a minha mãe. Pediu-me para esperar até ter a certeza de tudo. Assim o fiz. Apenas um ano depois tive uma conversa esclarecedora com a minha mãe. A sua reacção foi, para surpresa minha, de certa forma, compreensiva, até que disse duas coisas que fizeram com que ficasse de pé atrás e pensasse cá para mim "Ok. Não percebou. Vamos esquecer o assunto e perder a (pouca) esperança de que possa compreender."
Disse-me "Oh querida, todas as adolescentes passam por isso. É natural. É apenas uma fase." (a famosa história da fase)
A primeira coisa foi a mais óbvia: a da fase. Temos pena mãe, mas a fase está a tornar-se definitiva. Ops...
A segunda coisa foi a parte da "adolescência": tivemos esta conversa na véspera de eu completar 23 anos. Ops... adolescência já passou há uns aninhos mamã.
Passados alguns meses, a primeira (a história da fase), começou a revelar-se definitiva. A mamã, que não é parva nenhuma, até pelo contrário (graças a deus), percebeu isto e então veio a reacção há muito esperada. Deixou de me falar e ficou um pouco agressiva comigo. Rejeitou-me. E num certo dia em que estava a ter uma viva discussão com o meu pai em que o Carmo e a Trindade por pouco não vieram abaixo, ela revelou ao resto da família (pai e avó materna), que ainda não o sabiam a pedido dela, o tão horrível segredo (que nunca pretendi esconder) de que era lésbica. Ainda hoje me pergunto o que é que isso tinha a ver com a conversa, mas de certa forma, senti-me bastante aliviada com o feito! Obrigada mãe!

Hoje em dia, de vez em quando, conversamos, civilizadamente (pelo menos a maioria das vezes), e noto um certo esforço nela em tentar pelo menos conhecer o que até então pensava que só acontecia aos outros. E aqui está... a comunicação. É deveras importante não recusar o dialogo, mesmo que este entre por um ouvido e saia por outro. Algo fica sempre a "tilintar" lá por dentro. Trust me!

Só tenho pena de não conseguir (ainda) o fazer com o meu pai... mas também o "man" é um cepo!!! Mas eu sou extremamente... cof cof... persistente!!
Nunca lhes pedi que aceitem. Apenas pretendo que respeitem. E creio que isto é o que realmente é importante, o respeito. É claro que o ideal será respeitarem e aceitarem... mas para haver aceitação, o respeito tem de ser alcançado. E não é só porque sou homossexual. É porque sou uma pessoa que respeito e pretendo ser respeitada, não devo nada a ninguém, não roubo, trabalho, estudo, vivo a minha vida com dignidade. Que mais pode um pai esperar de um filho?

Adoro a minha família e sei que (apesar das coisas que já me disseram e de todas as situações menos boas que passámos) eles também me adoram e por mais difícil que tudo pareça ser, nada mudará este sentimento que nos une. É isto que torna uma família em Família. Não é só sangue... é o Amor.
Bjs,
Cristina