Boa tarde a todos,
Tem sido cada vez mais difícil lidar com a minha situação relativamente à identidade de género. Tenho tentado procurar grupos de apoio e tentado encontrar pessoas com as quais falar sobre o problema, sem grande sorte.
A situação familiar também não tem ajudado. Para exemplificar, tentei, a propósito do Carnaval, ir este ano vestido de rapariga. Supostamente no Carnaval "ninguém leva a mal", e assim teria uma desculpa para aliviar este stress interior. Infelizmente, dado ter uma família muito conservadora, essa ideia foi por água abaixo.
Sinto que não consigo expressar-me livremente porque desde sempre fui tratado com o "filho predilecto" da família, aquele que deveria dar o exemplo. E sempre tentei corresponder. Fui o primeiro em gerações a licenciar-me, e sempre me comportei da melhor forma perante a família. Durante anos vivi agarrado à ideia de ter de ser exemplar, e agora deparo-me com esta realidade trans, algo completamente oposto ao que sempre defendi. Se a minha família soubesse, seria um desastre e tudo para que trabalhei durante tantos anos iria por água abaixo.
Falar com a minha psicóloga não ajudou muito. Dado sofrer de POC (Perturbação Obsessivo-Compulsiva), ou OCD como é mais conhecida, foi já muito complicado ela aceitar eu ser pansexual (eu disse que era bissexual porque duvido um pouco que soubesse o que um "pansexual" é) visto que ela pensava que era mais uma obsessão, algo que não se confirmou. Falei-lhe depois sobre identidade de género, e ela simplesmente disse estar muito focado nos estereótipos da sociedade.
Fizeram-me em tempos a pergunta "Poderias viver como mulher para o resto da vida?" Eu não soube como responder. Na altura identificava-me como bigénero, e tenho muito receio do que poderia sofrer se a resposta fosse sim. No presente, sinto cada vez mais esse desejo, de ser mulher, presente em mim. Mas nunca tenho coragem de avançar.
Em termos de corpo, não desprezo o meu. Simplesmente sinto falta dos elementos do corpo feminino (seios, vagina, etc.) Em termos sexuais, sinto que me sentiria mais realizado com uma vagina. Em termos sociais (o elemento que mais tem força), desprezo o papel social associado ao homem, algo que, apesar de saber estar errado considerar nos dias que correm, é ainda presente no meu meio familiar/social.
Foi-me em tempos recomendado o grupo GRIT, mas ao consultar o blog verifiquei que não tem actualizações desde 2011, por isso não sei se ainda se encontra em funcionamento.
Um evento em que gostava imenso de participar seria o Encontro de Jovens Trans em Lisboa, mas como tenho grandes dúvidas sobre mim mesmo nem sei se me seria permitido participar. Seja como for não sei quando se realizará no presente ano (2017).
No fundo, gostava imenso de criar novas amizades com pessoas transgéneras com as quais pudesse partilhar as minhas dúvidas e ideias sem medo de ser julgado.
Obrigado a todos, tenham um bom dia.