Agora tornou-se moda falar de sociedades secretas e teorias da conspiração. Não falta por aí folclore mediático muito extenso em torno deste tema.
Afinal as sociedades secretas existem? O que são? Quem são os seus membros? E para nós, o mais importante: qual é a sua posição perante a homossexualidade?
Vamos por partes.
Ao longo da História em todas as grandes civilizações sempre existiu uma espécie de «corpo de elite» dentro da sociedade e dos líderes religiosos. Mais do que falar em religião ou sociedade secretas, deveremos antes falar em Escolas Filosóficas ou Escolas de Pensamento. Estas escolas tinham como objectivo a progressão e o aprimoramento moral e espiritual dos seus membros, oferecendo um Conhecimento secreto, vedado ao cidadão comum, quando o estudantes atingia um determinado patamar de perfeição. A transmissão era oral, e o estudante ficava obrigado a cumprir estritas regras quando seguia este caminho. Na Antiguidade, ganharam fama os mistérios de Osíris, do Egipto; os druidas, nas tribos celtas da Europa Ocidental; os mistérios de Eleusis, da Grécia Antiga; e os Essénios, na Palestina. Há ainda as escolas e doutrinas do Oriente: Taoísmo, Budismo ou Xintoísmo; as tradições dos xamãs da Sibéria ou da América do Norte. Mais tarde desenvolveu-se a Cabala entre os judeus e surgiram os místicos do sufismo.
Analisemos agora a posição de algumas destas Escolas de Pensamento perante a homossexualidade.
Cristianismo
Por vezes o cidadão comum confunde cristianismo com Igreja ou com seitas protestantes, e todos os seus dogmas e construções teóricas da Teologia. No entanto, para o cristianismo primitivo a doutrina era bem diferente. Os cristão primitivos foram perseguidos pelos romanos e pela ICAR quando esta surgiu, acusados de heresia. Ressurgiram e foram novamente perseguidos e assassinados, como sucedeu com os Cátaros ou com os Templários na Idade Média. Os ensinamentos do cristianismo primitivo voltaram no Renascimento e influenciaram a Reforma Protestantes e a Revolução Científica.
Os membros desta Escola têm uma interpretação própria do Novo Testamento de toda a Bíblia. Muitos são adeptos do vegetarianismo pois consideram que a morte animal é desnecessária, por acarretar um enorme sofrimento. A Natureza é sagrada e todos os seres vivos merecem respeito e admiração. Quando à sexualidade, não condenam a homoafectividade, pois o ser humano deve amar todos os outros seres humanos por igual e de forma desinteressada, independentemente do género, etnia, raça ou religião. Contudo, condenam o sexo entre homens ou entre mulheres, tal como condenam o sexo heterossexual sem fins reprodutivos. O sexo é sagrado e deve ter apenas fins reprodutivos. No entanto não se trata de uma condenação ao estilo da ICAR. Trata-se mais de uma advertência, pois cada um e livre de seguir o seu caminho. Defendem portanto o celibato, mas o celibato deve ser uma decisão pessoal, não forçada. O fundamental é Amar o Próximo e caminhar para a perfeição moral e espiritual, servir o Homem desinteressadamente e cuidar da Natureza. Portanto, condenam a homofobia, por gerar sofrimento. Defendem ainda o desprendimento material, a igualdade de direitos e oportunidades, e os direitos da mulher.
Sufismo
Tal como as escolas adeptas do Cristianismo Primitivo defendem que o homem deve controlar o impulso sexual. Os sufistas são considerados hereges e têm sido perseguidos.
Cabala
É uma Escola de Pensamento judaica que teve um grande desenvolvimento na Idade Média, nas comunidades sefarditas (judeus que viviam na Península Ibérica). O estudo da Medicina e da Psicologia Humana levada a cabo pelos cabalistas teve uma importância fulcral no nascimento da Psicanálise, com Freud. Não conheço a posição dos cabalistas perante a homossexualidade. No entanto alguns autores afirmam que os sefarditas do Al-Andaluz aceitavam a homossexualidade e os católicos acusavam os judeus de terem introduzido a sodomia na Península Ibérica. Ainda hoje as autoridades religiosas judaicas, de uma forma geral, mostram mais aceitação que as autoridades religiosas de outras religiões.
Aleister Crowley
Foi um auto-didacta de Religiões, Misticismo ou Filosofia. Depois de estudar técnicas orientais de sexo tântrico e de estudar a Ordem dos Cavaleiros Templários renovou a OTO e introduziu, ou melhor, divulgou o conceito de sex magick. Em boa verdade, já no Paganismo o sexo era utilizado em rituais secretos com regras próprias. Segundo esta visão, o sexo é sagrado mas pode ser uma ferramenta para o crescimento espiritual do indivíduo. O sexo deve ser portanto praticado como um ritual religioso, e não propriamente para a obtenção de prazer físico. E isto inclui o sexo homossexual, que não é condenado, desde que praticado em contexto ritual. Contudo a homossexualidade e a heterossexualidade exclusivas são alvo de condenação e não são aceites, pois seremos todos bissexuais à espera que o nosso lado homossexual ou heterossexual adormecido seja desperto. Este escola é o oposto das escolas adeptas do celibato, e a polémica entre adeptos destas duas vias é muito elevada. Os seguidores deste tipo de Misticismo não seguem o vegetarianismo mas defendem que a Natureza é sagrada e a morte de animais deve ocorrer apenas para a nossa alimentação e com o mínimo sofrimento possível.
Xamanismo e Religiões Tribais
Diversos tribos da América e de África consideram a existência de um Terceiro Sexo e antes da chegada dos colonos europeus ou da religião islâmica aceitavam os homossexuais e as lésbicas. Algumas tribos consideram os gays seres elevados e muitos tornavam-se xamãs ou sacerdotes da tribo. Foram ainda identificadas tribos onde os homens apenas praticavam sexo com mulheres para fins reprodutivos ou que preferiam a prática do sexo com outros homens. Exemplos destes existem na Papua Nova-Guiné ou no Norte de África. Nos rituais de amarração das religiões afro-americanas não interessa o género do parceiro e a homo ou bissexualidades está presente na sua mitologia.
Conclusão
Embora este texto esteja muito superficial e incompleto, dá uma certa noção da forma como a homossexualidade é tratada por diferentes Escolas de Pensamento, incorrectamente apelidadas de sociedades secretas pelo folclore dos adeptos de Teorias da Conspiração.
Existem duas grandes vias, a condenação do sexo sem fins reprodutivos, seguida por ascetas celibatários, ou a vivência do sexo em contexto ritualístico, onde se inclui o sexo entre homens, que condena o sexo profano, feito fora dos ensinamentos da sex magick. Estas duas vias são antagónicas e a polémica entre adeptos de ambas tem milénios.
Seguir uma Escola de Pensamento ou permanecer profano é uma escolha individual, feita de acordo com a consciência de cada. No entanto, seja qual for a escola seguida, todos devem ter consciência do dever de seguir alguns valores e conceitos fundamentais para o aprimoramento Moral/Ético.