Eu tive uma educação típica portuguesa mas sou absolutamente ateu; desde que me lembro de existir sempre me pareceu evidente a inexistência de "deus", "energias", "além", "místicas" e por aí fora. Ou mais exatamente, o absurdo de algo passar a verdade porque sim.
O sistema ético-moral judaico-cristão então dá-me comichões que nunca mais acabam; ensina-nos a ter medo, a sentirmo-nos culpados, a rejeitar a diferença, a negar os nossos instintos e emoções. Ou seja, ensina-nos a viver de joelhos perante nós mesmos. Que me perdoem os crentes, mas isso são ensinamentos para escravos. Curiosamente, Jesus propriamente dito terá dito coisas bem mais inteligentes e respeitáveis: respeita o próximo, faz o bem, honra a família, procura a paz, amem-se uns aos outros. Isto sim são coisas que fazem muito sentido para mim, coisas em que acredito. Até certo ponto é irónico parte dos meus valores serem quase que decalcados das palavras de Jesus (e não do diz que disse nos 2000 anos seguintes) e ser ateu. Claro que me refiro aqui a Jesus homem. Quanto aos padres.... é interessante, são dos primeiros a vir à praça tecer considerações sobre sexualidade: tão inútil como um cego a falar-me de cores.
Digamos que me incomoda no Cristianismo a eterna intenção de moralizar a razão, em vez de racionalizar a moral. E não estou a falar de tratados e livrinhos com 500 anos. Por extensão, rejeito qualquer tipo de espiritualidade. Claro que compreendo que a tendência no ser humano para o divino e maravilhoso é muito forte, mas eu não sou assim. Além do mais, já vi tanta vez à minha volta essa tal procura do místico ser usada por pessoas fragilizadas emocionalmente como forma de fuga à sua própria existência que ainda mais o rejeito. Acontece sempre da mesma forma (e aqui vou divagar um bocado, talvez devam passar ao próximo post):
Azar ao amor uma vez, azar ao amor outra vez, azar ao amor uma terceira vez, e pronto está feito, venha o Reiki e o Ayurveda e as energias disto e daquilo, e vamos lá ao encontro de Umbanda ver qual é o orixá que calha... e a vidente que me fez a regressão explicou-me que numa vida anterior eu fui uma pessoa muito forte e poderosa que tratou muito mal o sexo contrário, daí agora ser um(a) desiquilibrad@ emocional que não tem o que é preciso para manter uma relação funcional.... ooooops! Desculpem, era para ter escrito "azar ao amor". Desculpem

Mas fazer o quê, já ouvi a história da vidente a mais de dez pessoas diferentes e é sempre a mesma.... será que elas se combinaram todas?!?!? E isso das "energias"... então mas basta mesmo usar a palavra "energia" e tudo está fundamentado? Tipo, "energia" é uma espécie dos quatro piscas da mística? É só ligar e tudo fica justificado e desculpado?
Enfim, acho que todas as religiões tendem a ser alienantes, e isso é péssimo. É uma espécie de gaiola dourada para a nossa mente, onde tudo é seguro e perfeito. É tipo uma cadeira onde nos podemos sentar para ficar a observar a nossa vida a passar. Até à próxima reencarnação, que será melhor.