Não merecem que lhes chamem pais...eu não perdoava
Eu pensava o mesmo quando me aconteceu. É claro que, no meu caso, foi muito mais ligeiro que os que li. Mas mais tarde descobri que guardar rancores só me estagnava. Quando superei a raiva acabei por compreender que os pais também sofrem imenso. Muitos deles não sabem como lidar com certos assuntos e sentem-se perdidos. Muitas vezes não sabem agir de outra forma porque o peso de anos de estereótipos e preconceitos sobrepõem-se à sensibilidade e sensatez. É muito fácil julgar as coisas como certo e errado. Ver para além disso é que é complicado. E as pessoas estão demasiado habituadas a ver apenas aquilo que lhes colocam à frente dos olhos. E isto vai para ambos os lados. Os pais só vêem a sexualidade dos filhos e não conseguem aperceber-se que é tão normal e banal como ter olhos azuis, verdes ou castanhos. E depois nem se apercebem que os filhos precisam do apoio deles, porque só vêem aquilo que lhes está à frente (o preconceito). Os filhos só vêem a raiva que sentem e geralmente não se apercebem que os pais estão mais perdidos que eles. Reparem que, quando isto acontece, os filhos geralmente já fizeram o
coming out para si próprios. Já superaram as estigmas dos preconceitos. Os pais não. E acontece o choque de etapas. Não estou a querer defender ninguém porque não sou - nem tenho paciência - para ser advogado do diabo. Apenas estou a dar a minha opinião quanto à tua frase. Porque eu pensava o mesmo... mas cresci.
Ainda não falo com o meu pai (parente em questão que me pôs fora de casa) mas é muito mais por uma questão de ele estar noutro continente e de não termos uma base de contacto ou aproximação para tal do que raiva. Se ele me procurasse falava com ele na boa.
No fim acabei por ver que ele estava tão ou mais perdido que eu. Consegui refazer a minha vida - muito aos poucos, e com muitas cabeçadas bem dadas (muitas merecidas) - e, até digo isto com sinceridade, se pudesse voltar atrás e soubesse que me iria acontecer, fazia-o de novo. Aprendi imensa coisa e cresci imenso. E isso já ninguém me tira.
b.cardoso - O que te posso dizer é que dá apoio a ela e não a deixes ir abaixo. Lembra-lhe sempre que ela conseguir algo (emprego, casa, etc.) que estarás lá ao lado dela. As coisas melhoram com o tempo. Se ela ficar deprimida ou irritada, tenta compreender. A posição dela é muito difícil e, muitas vezes, insuportável. Mostra que tens orgulho nela quando as coisas melhorarem - o nosso ego cai a pique quando estas coisas acontecem e esses elogios ajudam a lidar com a situação. Se vires que estás a ir abaixo também, fala com ela, sê honesta sempre com ela. Afinal também te afecta. Muito mimo!! Ajuda-a a procurar trabalho... pode ser que até consigas arranjar amigos que vos podem ajudar. Com o tempo as coisas acalmam e vais ver que melhora.
Se eu puder ajudar, não hesites... Nem que seja para te dar uma forçazita (daquelas gigantes!!)
Tópico: Expuls@ de casa por ser LGBT (Lida 9580 vezes)
1 de Fevereiro de 2015
