Só que tenho alguns problemas com a ideia de termos de mostrar que somos "como os outros" com vidas "normais" para nos verem como seres humanos que merecem equidade social.
Exato! Mete-me alguma confusão essa ideia de que, se sairmos um bocado do que é "normativo" nesta sociedade, então já não merecemos ser tratados com dignidade. Para mim isso não faz absolutamente sentido nenhum. Cada um deve ser livre de ser como é, independentemente de se encaixar no que a sociedade acha que é "normal" ou não. Um homem super "efeminado", de saia, maquilhagem e tiques tem tanta legitimidade para estar nas marchas a reivindicar os seus direitos como um homem completamente "normativo" - e a presença de pessoas mais "extravagantes" não prejudica a luta pelos nossos direitos! Nós deviamos incentivar a diversidade, não reprimi-la. A luta pelos direitos LGBT é uma luta pelos direitos de
todas as pessoas LGBT, não apenas das pessoas bonitinhas que não chamam atenção e que encaixam bem na sociedade.
Mais curioso ainda é o facto de eu, que já participei em várias marchas, nunca ter visto nem metade dos cenários "carnavalescos" que as pessoas descrevem. A coisa mais "sexualmente explicita" que alguma vez vi numa marcha deve ter sido... sei lá, dois homens de tronco nu a marchar de mãos dadas. Que de sexualmente explicito nem tem nada, mas foi o mais "próximo" que me lembrei neste momento. Drag queens também nem vê-los, acho que consigo contar pelos dedos de uma mão o numero de travestis que vi nas marchas a que fui. E acho mal. Acho que deviam haver mais pessoas "extravagantes" e "nao normativas" nas marchas. Porque essas pessoas existem, e deviam sentir-se suficientemente confortáveis para aparecer nas marchas tal como são. Eu acho que o facto de haverem tão poucas pessoas nao normativas nas marchas é mau sinal, é sinal que essas pessoas ainda sentem que não podem ou devem aparecer nas marchas; se calhar por terem medo de sofrer as consequências de se assumirem publicamente (os medos habituais, homofobia, transfobia, tretas da sociedade); e além disto ainda têm de aturar pessoas dentro da própria comunidade LGBT a dizerem-lhes que não deviam aparecer nas marchas? A dizer que são elas as culpadas de não sermos levados a sério? A dizer que são demasiado extravagantes para participar num evento que, supostamente, comemora a tolerância, aceitação e diversidade? Não consigo deixar de ver uma enorme hipocrisia neste tipo de mindset.
O espírito da luta pelos direitos LGBT devia ser mais "eu tenho direito à dignidade porque sou um ser humano" e não tanto "eu tenho direito à dignidade porque me encaixo bem na sociedade e sou muito normalzinho e igual a voces". Hoje em dia quase que parece que ser "diferente" é uma coisa má, se és diferente, não apareças na marcha, vais dar-nos mau nome, não mereces ser visto em público à minha beira. Tretas.
Mas já estou a ressabiar bem mais do que tinha planeado quando comecei a escrever este post, LOL.
Eu gosto das marchas. Já participei em algumas e pretendo continuar a participar. Acho que as marchas não são apenas um evento de reivindicação de direitos mas também de celebração dos direitos que já alcançamos e é uma boa oportunidade para dar alguma visibilidade a minorias que, durante o resto do ano, caem no esquecimento.