Boa tarde a tod@s e obrigada pela vossa resposta. No entanto gostaria de dizer algumas coisas:
“Por exemplo, a 17 de Maio deste ano a rede ex aequo organizou uma iniciativa para assinalar o Dia Internacional da Luta contra a Homofobia e a Transfobia. Houve o cuidado de dar o mesmo destaque à homofobia e à transfobia. Tudo o que passou para o público sobre este evento foi: "gays e lésbicas".”
Claro que esta confusão existe na cabeça das pessoas, porque em tudo o que li, (e muito mais tenho para ler e aprender), quer em Portugal quer noutros países da CE ou fora, como o EUA, para além dos casos que tenho conhecimento ao vivo e a cores, todos os transexuais, quase que me atrevo a dizer, sem excepção, são confundidos com homosexuais, devido ao seu comportamento natural e os maneirismos que estão de acordo dom a sua identidade cerebral e que são opostos ao sexo biológico com que nasceram.
“É que é muito difícil avançar com iniciativas relacionadas com a identidade de género sem o input de pessoas transexuais…”
“É necessário maior envolvimento de pessoas transexuais e transgéneros com informação, experiência e voluntariado, a dar a cara e o corpo ao manifesto. Não tenho dúvidas de que é apenas uma questão de tempo até que surja tal personalidade, anónima ou não.”
Na verdade, tem havido mais informação sobre a transexualidade, na qual intervenho sempre que posso. No entanto, não posso deixar de referir todo o trabalho de informação que a Su Tavares, que penso fazer parte da rea, tem tentado fazer (quase sozinha), sobre a transexualidade, o que é, como se detecta, como se podem ajudar estas pessoas.
O que também verifico, é que a maioria das comunidades T (transexuais), estão escondidas dentro de um “gueto” e raras são as pessoas, que participam activamente em fóruns fora dessas comunidades, com medo de serem insultados e agredidos.
A Su Tavares resolveu, dentro do que lhe é possível, sair fora das comunidades T e divulgar este tema cá fora.
Já foi entrevistada na rádio e pelo ISCTE, tem passado imensa informação noutros locais da comunicação social. Apenas ainda não pode dar a cara. Porquê? Porque não se pode dar a luxo de perder o trabalho que tem, o que complica mais pela idade que tem.
Até há bem pouco tempo, no local trabalho dela, sempre pensaram que ela era homosexual masculino. Deixaram de pensar isso, quando souberam que ela tem namorada. Ficaram mais confusos ainda, porque sentem que ela tem algo diferente que lhes escapa.
E ela não conta porque a protecção no emprego para estas pessoas simplesmente não existe, na constituição Portuguesa a identidade de género não está prevista como factor discriminatório, à semelhança da raça, religião, orientação sexual.
E porque esta é uma lacuna grave, não há protecção para estas pessoas.
Por isso, ela ainda não pode dizer a ninguém no seu local de trabalho que tem disforia de género, que é mulher, que está a tomar hormonas e assim que puder faz a cirurgia de reatribuição de sexo. Mas, quando as mudanças físicas forem mais visíveis, então terá de falar com alguém responsável na empresa, correndo sempre o risco de ser despedida.
A questão, Margarida T., é que as pessoas transexuais, em Portugal, não têm iniciativa completamente nenhuma. Nem fora nem dentro das associações e grupos LGBT. Compreendo, e faço-a também várias vezes, a crítica às associações LGBT que usam estas siglas e tantas vezes se esquecem do T. Mas a verdade é que não há assim tanto que possam fazer sem terem pessoas que pertençam a esse grupo a colaborar com elas. Tome-se o exemplo da rede que referes, do dia internacional da homo e transfobia. A rede bem pode dar o mesmo destaque a um como ao outro, que se depois, na prática, só tiver pessoas gay e lésbicas a colaborar no evento, a boa intenção não serve de nada. Depois à outra questão, que é não terem as pessoas transexuais a trabalhar do lado delas, e depois quando querem fazer alguma coisa por estas pessoas, fazem-no sem noção e sem informação nenhuma. Ou seja, sai porcaria...
E como disse noutro tópico, digo-o agora aqui: quando se fala em que as pessoas transexuais trabalhem pela causa transexual, não se fala em qualquer tipo de exposição. Há muito trabalho que se pode fazer na sombra, até para permitir que quem dê a cara tenha o input das outras por trás. É isto que se chama representação, não uma pessoa a falar por todas, mas a dizer apenas a sua opinião pessoal, como vemos repetidamente. E a verdade é que nem esse trabalho de background as pessoas estão dispostas a fazer...
Quanto à Su Tavares, ela não faz parte da rede ex aequo (tanto quanto sei, nem se enquadra no limite de idade que a rede, como associação de jovens, tem de impor), mas sim da Opus Gay - associação que mescla atitudes transfóbicas com uma ou outra iniciativa de apoio à comunidade transexual (situação que espero ver melhorada pela Su, a curto-médio prazo). Ao que me tem parecido até agora, ela é apenas mais uma com vontade de trabalhar, mas com mais vontade de o fazer sozinha que de se juntar a quem quer fazer o mesmo. Infelizmente, a sensibilização que é necessária fazer sobre os transexuais não se faz com blogs de noticias, nem na zona de comentarios dos sites de jornais, nem nada que o valha. É necessária união entre as pessoas transexuais, e essa união não existe. É preciso chamar a atenção das pessoas, e depois dizer-lhes o que pensamos, o que nos incomoda, aquilo que precisamos... Não esperar que seja dada essa atenção e ir lá dizer qualquer coisa. Não esperar que alguém nos procure para lhes dizermos o que temos a dizer.
Refiro mais uma vez o GRIT, que como único grupo de transexuais em Portugal, tem-se esforçado a dar visibilidade ao tema: e os seus integrantes também já falaram bastante na comunicação social, seja em jornais, televisão ou rádio. Participaram em estudos e tentaram motivar outros para o fazerem. Tentam dar visibilidade ao tema dentro da comunidade LGBT (que é procurada por alguns transexuais que andam perdidos e não sabem onde procurar ajuda, e precisam encontrar gente igual a eles), mas também fora, onde reina a total ignorância sobre o tema. Mas o grupo continua a ter um número muito limitado de participantes. Olhando para o que já fizemos, pergunto o que faríamos se tivéssemos um número decente de voluntários! É isso que cada transexual que quer fazer alguma coisa devia pensar, para depois experimentar juntar-se a nós...