Este tópico levanta de facto uma questão essencial, cuja resposta depende também das pessoas que nos rodeiam e das suas limitações.
Eu própria estou num impasse. Apenas os meus pais e uma amiga sabem. Apesar das reacções francamente positivas devo confessar que por vezes fico magoada com certas atitudes e palavras que são ditas quase sem pensar, porque a sociedade nos impõem certos hábitos homofóbicos automatizados.
Essa minha amiga ficou por um lado mais próxima de mim e sinto uma enorme liberdade em poder falar-lhe do assunto, no entanto antes brincava bastante comigo, acarinhava-me,dava-me o braço, etc. Actualmente noto em pequenas coisas que evita ao máximo dos máximos tocar-me. Uma vez, por exemplo, ao dar-me umas moedas quis tanto evitar o contacto com os meus dedos que pouco faltou para as atirar. E isso fragiliza-me por vezes, outras compreendo,porque lhe disse que gostava dela (e que tinha a perfeita consciência de que ela não era como eu).
Apesar de ela me encorajar a contar aos restantes amigos, que são pessoas excelentes, para mim autênticos irmãos, fico reticente. É que muitas das conversas de convívio passam por malandrices, engraçadas na sua maioria, mas com um fundo sempre um tanto quanto homofóbico. Como se as pessoas se estivessem a testar, a tentar apanhar alguém em falso, a marcar posição, como se ser gay fosse uma fraqueza. Não imaginam contudo que estão perante uma pessoa com essas características. Na verdade atacam sobretudo os indivíduos de sexo masculino, porque esses é que parece pôr em causa as "bases viris do sistema". Partem do princípio que somos todos heterossexuais e que os jogos de palavras não afectam ninguém. Eu calo-me e às vezes agonizo por dentro e sorrio por fora.
Embora o texto não o indicie até aqui, creio que na sua maioria aceitariam/aceitarão a minha sexualidade, por conversas sérias que já presenciei. Mas também já ouvi disparates enormes que me deixam tão revoltada que fico muda e pior, envergonhada por ser como sou.
Tudo isto me tem deixado muito indecisa, apesar de os conhecer a todos há mais de 5 anos.
Além disso, temos um espaço alugado em conjunto, onde estudamos e trabalhamos. Se as coisas correm mal tenho medo de "perder pau e bola". De perder algo tão sublime como uma amizade sem condicionantes.