Eu também não gosto de rótulos, mas neste caso sou obrigada a dizer que quanto à minha orientação sexual sou bissexual, mas apenas há um ano e sete meses. Antes era heterossexual, mas mudei. 
Sim. É como se costuma dizer – os rótulos existem para nos ajudar a definir alguma coisa mas estes não nos devem limitar em nada.
No entanto, também não é de todo correcto usares o termo “
mudei” quando te referes à orientação sexual.
Esse é um termo usado por aqueles que se intitulam como “ex-gays”, que são um grupo de indivíduos ligados a movimentos de intitulada ajuda espiritual que com a “ajuda de Deus, voltaram a encontrar o caminho certo”. No entanto, a mudança então alegada nesses casos, verifica-se somente na adopção de um estilo de vida heterossexual pela renúncia e repúdio de um estilo de vida homossexual. Mas, na verdade factual dessas situações, a condição de serem homossexuais mantém-se, apesar de não ser expressa.
Entende-se assim porque a homossexualidade não se define pelos comportamentos sexuais que essa orientação possa levar. É por isso que se fala em “condição” ou em “orientação” e não em “comportamento” ou “opção” quando se define de maneira correcta a homossexualidade ou a bissexualidade.
Podes pegar em exemplos de vários homens ou mulheres que conscientes (mais tarde ou mais cedo no percurso da sua vida) da sua homossexualidade ou da sua bissexualidade que confrontados com isso optam por reprimi-la ou escondê-la , adoptam uma conduta heterossexual e nunca chegam a ter relacionamentos homossexuais. Situações dessas proliferavam em séculos passados e ainda existem hoje. No entanto, não é por não assumirem a sua orientação sexual que não deixam de a ter.
Sobre a análise que fazes da tua situação também tens que contemplar alguns aspectos.
Primeiro, que ninguém nasce a dizer que é homossexual ou bissexual.
Somos todos criados pelas várias instituições sociais (seja familiar, religiosa, etc) com a presunção de que somos heterossexuais e assim nós próprios nos consideramos até seremos confrontado com o contrário. Alguns de nós ganham consciência desse aspecto muito cedo, outros muito, muito mais tarde. Varia de pessoa para pessoa.
Há um caso, por exemplo, de uma mulher que namorou toda a sua adolescência com rapazes, nunca sequer pensou ou teve ideias de pendor sexual com raparigas porque inconscientemente lhe fora incutida a ideia de que isso nem era sequer uma possibilidade, casou, teve filhos e aos 40 e tal anos é que acabou por descobrir que tinha maior inclinação sexual para com mulheres do que para com homens. Um caso que não é incomum.
Segundo, que a orientação sexual não é algo que se vai alternando conforme a ocasião. Senão teríamos todos a oportunidade de dizer que só seriamos homossexuais quando nos desse jeito, quando esta combinasse com a nossa roupa ou com a nossa disposição diária. O que não é o caso.
Eu tive relacionamentos heterossexuais e presumi-me como tal até ao dia em que descobri que afinal não o era de realmente, nem bissexual. Em situação inversa, conheço uma rapariga que se julgava homossexual e se assumia como tal até ao dia em que se apaixonou por um rapaz e inicio uma relação com ele passando a assumir-se como bissexual.
As únicas mudanças que tens nestes dois casos é no comportamento sexual. Mas no que se refere à orientação o se verificou é que esta afinal nunca foi o que se julgava ser, portanto logo não se pode dizer que houve mudança.