Fascina-me mais a compreensão de Deus como uma entidade do que aquilo que criou/disse ou deixou de o fazer. Em especial, acho interessante a conjugação dos conceitos Omnisciência, Omnipresença e Omnipotência.
O conceito de Omnisciência é claro: a entidade divina conhece e sabe tudo. Isto implicará que esta entidade está consciente de toda a existência Universal e de todos os paradigmas e diferentes formas de percepção/compreensão/descrição de Tudo. No entanto, o conhecimento total e completo implicará um saber que ultrapassa a própria barreira do Tempo, porque se o seu Saber estivesse limitado a um determinado espaço de tempo, não poderia ser apelidado de Omnisciência: conhecimento total, sem limites.
Ora, se a entidade divina tem um conhecimento total, e se esse conhecimento não pode ser limitado pelo Tempo, isso quer dizer que a entidade tem uma consciência e um saber que se estende por todo o tempo (isto porque o tempo, por descrições da física, é fluído e tem comportamentos diferentes de acordo com outra variáveis). Ao conhecer tudo o que ultrapassa o tempo, a entidade acaba por ter consciência de si mesma em todas as linhas/espaços temporais, porque não pode ser limitado ao conhecimento nem de si mesma. Levando isto a um extremo, a entidade divina terá conhecimento do seu início e fim em todos os seus instantes de existência, pelo que nem faz sentido falar de um "agora": a entidade existe infinitas vezes ao longo da linha temporal, e tem conhecimento completo de si mesma em cada um desses instantes o que, no fundo, quer dizer que a entidade é transversal ao próprio tempo (atravessa-o e conhece-o por completo).
Nem consigo imaginar as possibilidades quando aliamos o saber completo à capacidade de fazer tudo (omnipotência). O conceito de omnipresença torna-se irrelevante quando consideramos que uma entidade saber tudo é como se estivesse em todo o lado em simultâneo. Uma percepção completa ultrapassa a presença dimensional, porque é como se lá estivesse.
No final, os conceitos religiosos de Deus com que estou familiarizado - de uma entidade criadora, que ama tudo mas que apresenta um escrutínio particular para com o Homem - parece-me vazio. Que uma entidade de percepção ilimitada tenha qualquer interesse em instantes ínfimos de vidas de seres como nós parece-me arrogante. O único interesse que consigo compreender será o de que a omnisciência permitiria à entidade Divina efectivamente conhecer e viver a vida de TODOS os organismos biológicos do Universo, e talvez o seu potencial interesse criador estivesse no estímulo. Por outro lado, estou a pensar isto em termos de uma única linha temporal, quando na verdade a entidade estaria a conhecer a criação e fim em simultâneo.
Até que ponto será tudo relevante para tal ser? É difícil dizer, simplesmente porque uma entidade que existe no seu início, existência total e fim deve ter uma perspectiva completamente incompreensível da dimensão de tudo, incluindo de si mesmo.