Vamos voltar um pouco atrás, ao que começou a conversa e ao que questionei. Não estou a tentar impôr um ponto de vista nem a forçar alguém a fazer o coming out. Discordo sim com o que referiste inicialmente;
“Que a melhor forma de comming-out é a de agir naturalmente, se acreditamos que ter uma relação com uma pessoa do mesmo sexo é tão correcto e normal como ter uma com uma pessoa do sexo oposto devemos também nós adoptar uma atitude de naturalidade perante esta.”A homofobia existe e o ser homossexual ou heterossexual é encarado de forma diferente, o que leva a que todos ou grande maioria assumam que tu e eu somos heterossexuais. O meu principal problema é que implicas que o coming out, quando não é natural nos termos que o defines, reforça a ideia de que existe algo de errado com a homossexualidade porque foge à vivência heterossexual. Colocar lado a lado o ser heterossexual e o ser homossexual é fugir à questão sobre a forma de fazer o coming out.
Isto vai na mesma linha de outros comentários que li de que “se os heterossexuais não o fazem porque temos nós que fazê-lo” ou que “estamos a auto discriminarmo-nos” ao fazer coming out. A questão não é o sermos diferentes dos heterossexuais devido ao coming out, mas porque a sociedade nos vê de maneira diferente. O coming out é restituir a visibilidade e uma parte da nossa identidade que nos roubam ao assumirem, senão mesmo ao exigirem, que somos/sejamos todos heterossexuais.
Continuando;
Se percebo correctamente, pondo em prática essa atitude de naturalidade em relação à orientação sexual, caso alguém perguntasse “Já arranjaste namorada?” a resposta seria algo do género “Não, sou homossexual e portanto não terei namorada”. O escolher não dizê-lo é uma maneira mais simpática de dizer que escondes a tua orientação sexual, isso sim, pouco natural.
Se te limitares a responder que "não", não estás a esconder nada. E sim a postura que pretendo ter é essa que referes, é mais difícil de aplicar na prática do que na teoria mas no meu caso passou por deixar uma postura que tive durante a minha adolescência de fingir estar interessado por raparigas para uma outra em que já não finjo ter uma orientação diferente da minha mas também não a apregoo sem motivo, está a ser um processo lento mas que para mim tem surtido resultados
. Não sou directamente questionado relativamente à minha orientação sexual, mas se o for hei-de ponderar factores como a pessoa que mo pergunta e o espaço onde estiver e de acordo com esses tomar uma decisão relativamente à resposta.
Se responderes que não tens namorada em vez de dizeres que não queres namorada por seres homossexual estás a alimentar uma ideia errada que as pessoas têm de ti (a qual és livre para desprezar); o seres heterossexual.
Como tu também já passei por essa fase de fingir o interesse por raparigas para o simplesmente manter-me neutro no assunto (e ainda me mantenho com muitas pessoas), mas não o vejo como uma situação propriamente natural nem desejável porque no meu caso não parte de uma vontade de ser discreto ou de ser privado. No meu caso o natural seria não o esconder. Mas lá está, tu dizes que o natural para ti é apenas o não fingir. Somos diferentes; no teu caso o que tu és não passa pelo partilhar da tua vida afectiva ou sexual, pelo menos em termos em que a tua orientação sexual seja conhecida. É isso que questiono;
Passas da necessidade de reforçares que és heterossexual junto do grupo, para o ser reservado em relação à tua orientação sexual. Se vais buscar a naturalidade e normalidade dos heterossexuais como desejável no que respeita à forma como encaram a sua sexualidade, então estes não são reservados no que respeita à sua orientação sexual; está implícita e é notória no seu discurso e acções. O mecanismo de defesa está em dizer que achas que o coming out devia ser de certa forma, mas depois em termos de personalidade dizes não gostar de falar na vida afectiva/sexual. Retira-se a necessidade ou afirma-se ser indesejável o coming out directo, mas por outros motivos também não se o faz indirectamente (por exemplo naturalmente numa conversa como todos os heterossexuais que conheço o fazem).
É ficar no mesmo sítio que tantos outros homossexuais se encontram, por os mais variados motivos, mas suportando-o; um suporte argumentativo que me parece conveniente. A maior parte dos homossexuais não vivem a sua sexualidade com o à vontade ou liberdade que gostariam mas claro que no teu caso pode ser uma escolha e aquilo desejas, não te sentindo contraído. No entanto por todos os motivos acima, é algo que sendo forçado não é desejável e que pelos motivos indicados muito menos.
Directamente também não sou questionado relativamente à minha orientação sexual, mas existem uma série de perguntas em que é assumido que sou heterossexual e conversas em que não posso participar com total liberdade por não ser assumido. Se fosse questionado relativamente à minha orientação sexual também ponderaria os mesmos factores. Mas num mundo sem homofobia o assumir da orientação sexual seria o natural e é o desejável para mim, e acredito que para a maioria das pessoas, existir esse à vontade.
Baseio-me nas minhas experiências e no meu círculo de amigos e família e tu nos teus e isso justificará a diferença na forma de encarar o coming out. O meu único ponto era contrapôr a afirmação inicial, com a qual discordo e tenho dificuldades em me reconhecer. A naturalidade de que falas não me faz sentido nem me é natural pelos motivos indicados. Espero que não esteja muito confuso...

O confrontar os outros com o parceiro parece-me pouco prático ou mesmo insensato junto de pessoas próximas como os pais; se não fores independente os teus pais podem impedir-te de o ver, a reacção pode ser muito exacerbada, colocas a outra pessoa numa situação desconfortável, etc. No meu caso o contar primeiro aos meus pais em vez de simplesmente chegar a casa com um potencial namorado é uma questão de respeito por mim, por eles e, caso estivesse numa relação, também pelo meu companheiro.
Mais uma vez, estás a basear-te naquilo que é a tua família e circulo de amigos e eu falo tendo por base os meus.
Se chegasse a casa com um namorado os meus pais aceitariam mas seria uma situação desconfortável. Evitaria tal por aquilo que entendo como uma questão de respeito. Isso sou eu e não diria o contrário.
Não falo exclusivamente com base na minha experiência pessoal, mas pelo que leio no fórum e vou sabendo. Há quem seja impedido de ver o namorado ou namorada, há pais que preferem ver o coming out do filho como confusão ou uma fase, que precisam de tempo e informação, e o relacionamento amoroso concreto do filho ou da filha rouba-lhes isso; é um choque e pode potenciar uma reacção mais extrema. O que fiz foi fazer um contra-ponto à situação como a ideal e mais natural. Há situações em que o coming out até pode correr melhor tendo o namorado ao lado como apoio. No entanto, simplesmente chegar com o namorado a casa era algo que não aconselharia mas que fica obviamente à consciência de cada um. Há situações e situações e cada um procura o que acha mais correcto e julga mais adequado.