Pessoalmente, já não me dou "ao trabalho". Houve muitas situações que me afectaram tremendamente e com o meu tipo de personalidade não é fácil Dou sempre muito, invisto muito, muita energia, muito tempo e invisto porque quero, mas sou um ser humano e é como dizem: quem não se sente, não é filho de boa gente. Desilusão após desilusão, parece ter criado em mim, ao longo do tempo, uma "disfunção". Não consigo criar mais laços, "fechei a loja". Posso ver como uma disfunção que, por outro lado, não me faz perder tempo nem energia. Há sempre o lado positivo. Percebi quem estava e quem não estava, fiz os "cortes" onde tinha de os fazer, para manter alguma sanidade mental (a que sobrou

) e percebi que, por vezes, não têm coragem de nos dizer que não querem nunca mais falar connosco ou estar connosco. Quando se trata de pessoas conhecidas, ou de afastamento natural/gradual (e de certeza que já fui assim com algumas pessoas, mas que não vieram perguntar nada por isso é porque ficaram bem com isso, também) não há problema, mas quando são ligações mais profundas em que pensamos que as pessoas estão ali e afinal não estão, dói demais. A mim, dói. Algumas pessoas vão-nos "mantendo" só porque sim, ou por não terem coragem de um corte definitivo, ou por acharem que ele não é necessário, mas, às vezes mais valia não nos "deixarem" à espera. Vão dando algumas desculpas, naquele dia não podem encontrar-se connosco, após uns meses também não, e nós vamos percebendo que éramos os únicos a estar onde já não estavam. Continuámos a apostar em amizades que já nada apostavam em nós. Perguntamos o que fizemos, se estamos ok, e evadem-se. Em vez de nos informarem que nunca mais vão estar, deixam-nos "à espera". Depois, percebi que há muitos jogos. Em vez das pessoas se agarrarem aos sentimentos bons, agarram-se aos maus e em vez de dialogarem e compreenderem o outro lado, começam a haver jogos. Afastei-me um bocado de alguns "núcleos" de amizades lgbt por causa disso. Ouvia as "líderes" dos grupos a combinar coisas e a forma como combinavam e era como: "Se a x vai, a y não pode ir, a "a" se for vai sentir-se mal por ver "b" porque, etc. etc." e isso levou-me a mais de um ano de reflexão. Comecei por pensar que se calhar eu é que estou mal no mundo: sou uma idealista e as coisas não são assim. Pensei: se fazem isso com outras, também fazem comigo. Pensava: por que é que x não dialoga com y e tenta resolver e apaziguam o que cada uma sente de mau em relação à outra?; estão a tentar proteger a "a" porque se vai sentir mal se vir a pessoa "b": qual a origem desse "sentir mal", há alguma coisa que pode ser feito para ficar o bom e tirar o mau?, vamos ajudar a ir à origem da dor, vamos extrair o veneno e deixar o bom, vamos fazer entender que ódios, rancores, invejas, etc. em nada ajudam, e vamos manter o bom? Percebi que o ser humano não quer... não quer paz, não quer amor, não quer a solução porque o ego, o orgulho é mais importante do que a harmonia. Percebi que na impossibilidade de nos darmos todos bem, preferi não me dar de todo. Fartei-me de "grupinhos", gosto de me dar bem com toda a gente, e ainda que não sentisse muita empatia - que é normal não a ter com toda a gente - esforçava-me para olhar o ser humano dentro das coisas que me faziam "retrair" mais com essa pessoa e pensava: "A pessoa não tem culpa de não sentires tanta empatia, vai lá e vai entendê-la, puxar pelo melhor dela, de certeza que tem." Viver uma vida toda assim, acumulando desilusões, tornou-me disfuncional. Hoje em dia não consigo criar laços, os meus diálogos com "pessoas" novas, principalmente no meio lgbt, são estranhos para mim, porque me espanta a "distância" que crio automaticamente, mas... não vou forçar a que seja diferente. Não crio uma ligação, não dialogo de forma constante - cansei-me de ser constante, acho eu - e nem pergunto os nomes às pessoas, nem tenho paciência para apresentações. Fora do meio lgbt, quando começava a perceber que, por exemplo, no trabalho (na altura em que trabalhava presencialmente), me dava bem com alguém e pensava que seria bom deixar nascer uma amizade, quando ponderava - muito raramente - marcar alguma coisa para depois do trabalho, pensava "Para quê? Perder mais tempo, outra vez? Até quando?" e nunca cheguei a marcar nada com essas pessoas. É esta a forma como vejo as coisas: amizades para a vida, só as que tinha antes, de onde não saí e de onde não foram embora. Agora não consigo olhar para nada novo de forma duradoura. As coisas são o que são e duram o que duram por isso não invisto em "amizades duradouras", só tenho novos conhecidos e não novos amigos. Não crio novas amizades para esquecer outras, simplesmente não as crio.