Lá estará no seu direito de considerar que a escassez de recursos é uma inexistência ou uma fraude, mas fique sabendo que é o que se aprende em qualquer faculdade de economia. Não foi a direita (seja lá o que for que quer dizer com isso) que inventou a escassez de recursos.
Não me viu responsabilizar exclusivamente os refugiados (presumindo que são pessoas afectadas por conflitos bélicos e/ou políticos) pela corrupção nos países ditos em desenvolvimento, embora esta seja endémica e transversal a toda a população. Aceito que se deva aos governos desses países e também a milícias armadas o desvio de fundos para ajudas ao desenvolvimento, sendo que a "ajuda humanitária" (também altamente questionável) acaba por não chegar onde deve.
O que não posso aceitar é o argumento já gasto e obsoleto da colonização. Minha cara, tivemos pena de morte, tivemos escravatura, tivemos condenações sem julgamento, mas tudo isso, se foi criado no Ocidente, foi também abolido pelo Ocidente, cuja mentalidade evoluiu no sentido humanista e do respeito pelo primado da lei. O caso sul-africano é paradigmático do que afirmo e contradiz em absoluto o que referiu acima - ao contrário do que afirma a historiografia politicamente correcta e oficial, foi a mentalidade do presidente Frederik de Klerk e do seu ministro dos Neg. Estrangeiros, Pik Botha, que criou as condições para que o apartheid chegasse a um fim. O presidente de Klerk promoveu um referendo apenas entre a população caucasiana da África do Sul, que votou maioritariamente (70%) a favor do fim do apartheid, o que desmente a tese do colonizador mau e agressivo que prejudicou os povos nativos africanos. No mesmo sentido, Pik Botha negociava na frente internacional a libertação de Nelson Mandela (que jamais teria tido sucesso não fosse a pré-disposição do presidente de Klerk). O presidente de Klerk permitiu a realização de manifestações anti-apartheid e promoveu a desnuclearização da África do Sul. Para concluir, a máxima prova do respeito pelos valores da democracia que o Ocidente encarna foi a disposição de Frederik de Klerk para ceder a presidência a Nelson Mandela, de forma pacífica. Penso que poucos presidentes africanos terão feito uma transição tão pacífica. Não consta que este seja um legado pernicioso para os sul-africanos nativos e, mesmo assim, a corrupção impera na África do Sul desde o fim do apartheid e a ascensão do ANC, o partido actualmente no poder. A colonização é que, ao contrário do que refere, explica pouco ou nada do estado actual dos países ditos emergentes. As generalidades de pouco servem quando os exemplos concretos e reais do que foi a história vêm ao de cima. Não é um "back to basics", mas é certamente uma descrição fiel do que se passou.
Registo também que conseguiu a proeza de despachar numa linha a questão das "ajudas ao desenvolvimento". Como se vê, estamos de acordo - elas não funcionam e são perniciosas. Mas ao passo que eu defendo que, além de excessivas, não é controlado o destino que, no Ocidente, prevemos que lhes seja dado, verifico que conseguiu a proeza (mais uma) de considerar que são perniciosas e de defender um reforço das mesmas. Não parece coerente.
Também não me ocorre como consegue falar de interdependência quando se verifica uma clara relação de dependência dos países ditos emergentes em relação ao Ocidente (excepção feita ao caso chinês que, não por acaso, desenvolveu sempre uma filosofia distinta da ocidental). Saindo agora de África, o caso indiano é também ilustrativo dessa dependência em relação ao Ocidente. A existência de uma indústria cinematográfica a copiar Hollywood, a aposta nas novas indústrias de alta tecnologia e nanotecnologia, a valorização da própria diáspora indiana espalhada pelo mundo revelam que, não fosse o sistema de castas, a Índia seria um país completamente ocidentalizado. As Petronas Twin Towers na Malásia (imitando o World Trade Center), a aposta nas novas tecnologias na Coreia do Sul, em Singapura, no Japão, são também exemplo dessa ocidentalização.
Registo, por fim, que estamos de acordo quanto ao erro clamoroso cometido pela sra. Merkel, que quase lhe custou a vitória nas recentes eleições legislativas - abrir as portas a todo e qualquer refugiado, sem qualquer critério, e desperdiçando pela janela toda a capacidade económica alemã na construção de centros de refugiados e apoios sociais, só para fazer um brilharete na cena internacional. Posto isto, ao passo que entendo o erro que França cometeu com o seu processo de descolonização (a revolta dos pieds noirs na Argélia é um caso paradigmático), mas penso tratar-se de um caso mais profundo, já que o estatuto do imigrante sempre foi altamente desvalorizado, como o comprova a existência dos bidonvilles. Ora, em Portugal, pelo contrário, só não é bem recebido o imigrante que não quer ser bem recebido. Não há milícias armadas na rua, ou skinheads, a perseguir imigrantes. Vejo muitas queixas da população imigrante quanto às dificuldades de legalização, mas esquecem-se que os cidadãos portugueses sofrem exactamente da mesma relação difícil com a burocracia instituída (veja-se a saga que é tirar o cartão de cidadão...). Não podem querer ter o que nem nós portugueses temos, que é uma relação fácil com a burocracia. E isto aplica-se aos apoios sociais, à polícia... A população imigrante sofre exactamente dos mesmos males de que um qualquer cidadão português sofre (excepção feita, talvez, às dificuldades de linguagem).
Em relação à questão da escassez de recursos, sugiro uma leitura mais atenta do que escrevi.
Sobre a colonização deixo duas ou três questões:
1 - Terá sido a colonização inócua?
2 - Terá havido consequências para os povos colonizados?
3 - Terá havido consequências para os povos colonizadores ao nível do seu desenvolvimento?
Nas ajudas ao desenvolvimento, não vejo onde defendi o reforço. Confesso a minha ignorância sobre o tema. Acho que estas ajudas podem, sim, ser perniciosas e que, portanto, têm que ser repensadas.
Sobre a corrupção na África do Sul, e na África em geral, proponho que avance com uma explicação. Imagino que a deve ter.
Sobre a interdependência, faço notar que há muitos ocidentais a ganhar dinheiro em África. Angola é um exemplo.
Não percebo onde é que disse que Merkel tinha feito mal em abrir as portas aos refugiados.
Em relação aos imigrantes, a segregação e as suas implicações estão estudadas e sabe-se que perpetua a cultura de pobreza.
Reli, evidentemente, o seu escrito sobre a escassez de recursos. Presumindo que se está a referir à "direita" como qualquer força política que defenda a economia de mercado e a livre iniciativa privada (o que inclui, obviamente, forças políticas mais à esquerda), mantenho a mesma posição - quem não está de acordo com estas premissas não reconhece a existência de escassez de recursos. Relembro que a "direita" (as forças políticas não extremistas) é o que permite a cada um fazer as suas escolhas (seja escolhas de vida ou simples opções de consumo) com toda a liberdade. Ora, como todos sabemos, "máxima liberdade, máxima responsabilidade". Daqui não decorre, contudo, que a pobreza seja uma escolha, mas sim uma condição - assim como a riqueza ou abastança, como preferir. Ninguém é eternamente pobre ou eternamente rico, já que, em sociedades onde existe mobilidade social (precisamente as sociedades que a "direita" defende e preconiza), as pessoas mudam de condição económica, para melhor ou para pior, ao longo da vida. Nem sequer o binómio pobre-rico é válido nas sociedades mais desenvolvidas, tendo em conta a existência de relevantes e numerosas classes médias. Ninguém responsabiliza ricos ou pobres pela sua condição, simplesmente ela é assumida com naturalidade.
Quanto à colonização, nada na história é inócuo ou inconsequente. Calculo que seja opositora da divisão do território africano feita na Conferência de Berlim (1885), mas não podemos ignorar que a divisão tribal de África não seria hoje uma opção séria e a ter em conta. Aliás, temos outros exemplos de colonização - o caso brasileiro, por exemplo, é paradigmático da herança que os portugueses deixaram nesse território. Desde logo, a herança linguística, que permite ao português ser uma língua falada universalmente, e também a herança cultural, na arquitectura e na preservação do património. No Brasil, até, a relação privilegiada do presidente Lula com o presidente Obama permitiu que o Brasil ultrapassasse economicamente o seu antigo colonizador, Portugal. Mas todos sabemos que, no caso brasileiro, no caso indiano, as regras que permitem a prosperidade económica desses países foram e continuam a ser definidas pelo Ocidente - livre comércio, inexistência de barreiras alfandegárias, etc. A terem vingado as ideologias que persistem em alguns dos países ditos emergentes, que clamam por mais "justiça" ou "igualdade" (sem a devida concretização, como é claro), a prosperidade nesses locais seria uma inexistência. Daqui se conclui que, se as potências colonizadoras souberam tirar o devido proveito das suas colónias, não obstaculizam (pelo contrário, até promovem, com as já referidas regras de livre comércio) o desenvolvimento e a prosperidade das suas antigas colónias.
Relativamente às "ajudas ao desenvolvimento", considero-as perniciosas porque não existe controlo e monitorização do destino que lhes é dado. Muito é perdido na corrupção e em desvios de dinheiro para financiamento de milícias armadas, que depois fomentam as intervenções de potências externas. A explicação para a corrupção é simples em qualquer lado do mundo - falta de educação para o bem comum e de respeito pelo próximo e excesso de burocracia. Não é de estranhar que os países com mais alfabetização e, dentro destes, os países com um maior número de população mais qualificada são os países com menos corrupção, atendendo a que existem oportunidades (justas e não de bandeja) para um número significativo de pessoas.
No que toca à interdependência, está claro que não está a ter em devida conta o interesse que Angola - e outros países - têm no investimento directo estrangeiro (IDE). Um investidor ocidental investe onde quer que as condições sejam favoráveis, não procura qualquer relação de interdependência com uma antiga colónia. Nem poderia, já que não representa ninguém, nem nenhuma entidade ou país, a não ser a si próprio. Há mais benefício para Angola decorrente do IDE do que para o próprio investidor, que faz lucro rápido, mas com entraves burocráticos e uma enorme corrupção.
A sra. Merkel fez mal em abrir portas aos refugiados, em primeiro lugar, porque não estabeleceu qualquer critério para a entrada e apenas o fez para dar uma "bofetada de luva branca" ao Grupo de Visegrado, que é fortemente opositor da entrada de refugiados. Em segundo lugar, porque promoveu o crescimento da extrema-direita, o partido AfD (Alternativa para a Alemanha), e perdeu não só eleitorado seu, como criou mais uma ameaça à estabilidade europeia. Quis fazer um brilharete sem pensar nas consequências.
Por fim, quanto à cultura de pobreza, remeto para o que referi acima - nada na pobreza ou na riqueza é eterno ou assegurado. A segregação, que não é desejável, nunca foi impedimento do sucesso de alguns portugueses em França e só vai servindo de justificação para o comportamento de algumas minorias étnicas, desrespeitador da cultura ocidental.