Sou transexual (F2M).
Eu acho que a melhor forma como podes ajudar alguém que seja transexual é informares-te sobre o assunto. Muitas vezes as pessoas não conseguem entender o que é sentir-mos que como as pessoas nos vêm e nos vemos a nós próprios ao espelho como algo que não somos e não nos reconhecemos é perturbante. Eu falo por experiência própria sou pré qualquer tipo de operação e o meu receio neste momento em avançar com a transição é por um lado o preconceito (às vezes sinto que é mais fácil conviver com a minha batalha interna todos os dias e aceitar uns comentários como se fosse rapariga a ter de levar com o mundo em cima quando de um momento para o outro me deixarem de ver como uma 'ela' para me considerarem um 'ele') e por outro o facto de pelos menos as operações (F2M) em Portugal ainda não serem perfeitas, sou muito exigente comigo mesmo e prefiro ter um corpo de rapariga (apesar de não me identificar com ele) perfeito, a ser um rapaz que não se pode considerar realmente um pois nem tudo funciona como devia e fica com o corpo cheio de cicatrizes para o comprovar... Não digo que no futuro não me predisponha a isso (porque eu realmente queria) mas neste momento sinto que o medo ainda é maior do que a dor de viver como sou, porque não vou mentir, para mim pelo menos, não é insuportável viver assim, nasci assim, fui criado assim, 'adaptei-me' sempre a ser assim, apesar de nunca o ter sentido. Sinceramente desde que me conheço como pessoa nunca pensei em mim mesmo como uma rapariga, sempre me senti estranho quando as pessoas se dirigiram a mim como rapariga o meu cérebro sempre que alguém me trata no feminino pensa "Não sou mulher, mas eu sei que é assim que me vez" e aceito. Talvez seja também por isso que sempre pareci perante os outros um pouco deslocado porque para mim é um processo reagir a essas situações. Eu vejo-me e sinto-me um homem em todos os sentidos e só não me apresento como um perante os outros porque é 'estranho' para eles, porque eu sei que eles não vêm isso. Eu posso não parecer fisicamente mas eu sinto-o e para mim é só isso que realmente me importa .
Enquanto 'rapariga' sou lésbica para toda a gente, quando na realidade sou um homem heterossexual, namoro com uma rapariga que está a par destes meus conflitos interiores e me apoia mas que me trata como sua 'namorada', apenas porque é o que o resto do Mundo faz e também seria mais esquisito ela ser a única a fazê-lo quando mais ninguém sabe. Às vezes é duro, sozinho choro muito com esta situação, já tentei negá-lo a mim mesmo, 'esquecê-lo', mas sempre que o tento não resulta, não é algo que consiga por num saco e jogar no lixo, fechar numa caixa, a minha cabeça não consegue fugir e mesmo que durante um dia ou dois tente 'adaptá-la' para tentar mostrar-me aos outros como rapariga isso não sei como isso gera uma raiva dentro de mim, e vivo numa constante batalha interior. Agora aqui a tentar descrevê-lo consigo perceber o quanto é difícil explicar o que é tu sentires-te que és uma coisa, as pessoas verem-te como outra e não sei às vezes certos comentários magoam como "Devias tentar ser mais 'feminina'", "Ah ela quando arranjar namorado vai se tornar mais feminina", fazem-me sentir que sou um erro, que nasci ou com a cabeça ou com o corpo errado.

Sinto que falar ao mundo daquilo que sinto, como me sinto ia trazer muitos mais problemas do que os que aprendi com o tempo a lidar dentro da minha cabeça, isto é um problema meu, quando eu tiver estabilidade, quando não depender de ninguém talvez aí finalmente tenha coragem de tomar um passo em frente e viver a minha vida sem medos, ter direito a poder sentir-me um homem por inteiro, e não ser só eu a ver isso como o resto do Mundo. Por enquanto, sinto que isso ia trazer mais coisas más que boas e ia ser um acto egoísta da minha parte, apenas para me sentir melhor ir criar uma data de problemas à minha volta.