Olá Milo, como está esta tua situação?
Estive a ler este tópico e identifiquei-me com várias coisas ditas.
Eu tenho 21 anos, fiz anos há cerca de um mês. Identifico-me bastante quando referiste que tentaste gostar de raparigas: eu passei o meu secundário a fazê-lo, cheguei até a fazê-lo com duas raparigas ao mesmo tempo. Escusado será dizer que só foi pior, para mim que via sempre as minhas tentativas e esperanças falhadas e para elas, que não lhes foi justo tendo mesmo chegado a perder a amizade de uma delas, a minha melhor amiga.
Identifiquei-me também quando referiste que tens bastante receio que as coisas entre ti e a tua mãe possam mudar. Partilho o mesmo receio que tu. A minha mãe adora, por exemplo, algumas celebridades que ela sabe que são homossexuais. Nunca falou nesse assunto, mas já disse coisas como "O Goucha gosta de homens!" a pessoas que perguntavam o motivo de ele não ter mulher! Eu penso que ela aceita, mas por outro lado, não sei se o aceita dentro da própria casa dela. Isto acontece bastante: "tudo bem, desde que não ao pé de mim" - eu tenho bastante receio que seja este o caso. Outra coisa que afecta isto é que quando eu andava a tentar namorar com raparigas no secundário, a minha mãe soube que eu supostamente gostava de algumas. A que se destacou, logicamente, a minha melhor amiga, pois eu cheguei a ter uma fotografia dela em cima da minha mesa de cabeceira. A minha mãe perguntou porquê e eu respondi que gostava dela. Julgo que no dia em que lhe contar que vai ser um choque, mas tenho a esperança que corra minimamente bem.
Gostava que ela o soubesse. Contudo, sempre pensei que não haveria motivo para lhe estar a contar tal coisa se eu não namorava. Disse a mim mesmo que quando namorasse, que iria pensar novamente no assunto. Até hoje, continuo à espera desse dia.
Durante este tempo, o assunto tem estado em stand-by. Durante o secundário, identifiquei-me também com o que referiste, sobre o facto de haver alguns risos ou até conversas em que parecia que os meus amigos sabiam de mim mas sem nunca o dizerem, tal deixava-me bastante confuso e afectado. Foi no secundário que fui aprendendo a aceitar-me como sou e a deixar de tentar iludir-me pensando na possibilidade de gostar de raparigas. Foi assim que nasci. Não tenho vergonha, mas também não tenho orgulho. É assim que sou, tal como há pessoas que gostam de melancias e outras não, certo? (Talvez o exemplo não tenha sido o melhor, mas o que queria dizer é que há coisas que são como são e nada mais, não há necessidade de as complicarmos!).
Julgo que quando o momento certo chegar que irás ter a força e a coragem para contares. Sabes, ironicamente, foi no mês em que falaste disto, em Maio, que eu me assumi a 3 pessoas: à minha irmã, à amiga com quem passo mais tempo na faculdade e à minha melhor amiga, apesar de não falar com ela há quase um ano. Achei que lhe devia contar. Sabes como é que ela reagiu? "Eu já o sabia há muito tempo!". Sabes como é que a minha irmã reagiu "Eu já desconfiava há muito tempo. Estou chateada contigo por só agora o teres contado." Sabes como é que a amiga da faculdade reagiu? "Não estava nada à espera disto Fábio mas admiro a tua coragem em contares algo tão importante de ti."
Eu tinha receio que as coisas entre mim e a minha irmã e entre mim e a tal amiga da faculdade ficassem diferentes. Mas não ficaram! Pelo contrário! Nos dias a seguir, eu tive essa a sensação e andei a remoer-me imenso, cheio de remorso por ter contado, mas foi só imaginação minha! As coisas continuaram iguais, a única diferença que noto é que sinto um peso menor sobre mim! E isso é muito bom!
Lembra-te, a tua orientação sexual não te define. É apenas uma parte de ti. Sei que as coisas hão de correr bem, eventualmente, especialmente se a relação que tens com a tua mãe é assim tão forte e especialmente quando a tua mãe parece ter a mente tão aberta que tem. Acho que vai correr bem, mas não te pressiones demasiado. Deixas as coisas acontecerem quando tiverem que acontecer!
Espero ter ajudado. Se quiseres ou precisares de falar, envia MP, que estou aqui para tentar ajudar no que puder!
Abraço
