Olá a todos!
É a primeira vez que escrevo no vosso fórum, e escrevo-vos como heterossexual que gostaria que neste país fossem reconhecidos os direitos dos homossexuais. Parece que aos poucos vamos conseguindo que se vão dando alguns passos neste sentido… Encontrei o vosso fórum por acaso, mas senti-me imediatamente identificada com este post em particular. Permitam-me partilhar convosco a minha história, e desculpem-me se for um pouco longa…
Há pouco mais de um ano, conheci um rapaz, num programa de intercâmbio de estudantes que durou poucas semanas, por quem me apaixonei. Tímida como sou, não lhe disse nada durante o tempo que estivemos juntos, mas demo-nos bem desde o início, e mantivemos o contacto mesmo depois, à distância. A nossa proximidade foi aumentando, sem eu saber muito bem explicar como confiava nele e ele em mim, e finalmente, cerca de um ano depois, surgiu a oportunidade de nos encontrarmos, ainda que por poucas horas, numa escala de uma viagem que fiz (sim, isto parece uma cena de filme, duas pessoas encontrarem-se num aeroporto apenas por umas horas, mas adiante

).
Nesse encontro, ele confidenciou-me que era gay. E que ainda por cima andava apaixonado. Eu nunca fui preconceituosa, embora nunca tivesse tido amigos gays – sempre defendi, e continuo a fazê-lo, que não existe a chamada “normalidade” e “não-normalidade” – desde que sejamos felizes e não prejudiquemos a felicidade dos outros, cada um deve seguir o seu caminho sem hesitar. Fiquei em estado de choque, obviamente – mas apercebi-me no mesmo segundo que tinha uma amizade de ouro nas mãos, e a enorme confiança que ele estava a depositar em mim ao contar-me aquele segredo – que nem sequer a família sabia. Imediatamente lhe dei todo o meu apoio, e resolvi não lhe contar a revelação que tinha guardado também para aquele momento – não valia a pena, não é?
A família dele acabou por saber, por um completo acaso, no dia seguinte. Eu ajudei-o a ultrapassar essa fase naquilo que pude - nem poderia ser de outra maneira, e não estou aqui para me vangloriar de o ter feito. Os amigos ajudam os seus amigos a ultrapassar momentos complicados, ponto final. Tudo isto se passou há poucos meses, e neste momento damo-nos como irmãos.
Quis partilhar esta história convosco porque, ao ter prometido segredo para com ele (continuo a ser das poucas pessoas que tem conhecimento da sua orientação sexual), não pude desabafar com ninguém, não o poderia fazer sem comprometer a sua identidade. E ao mesmo tempo que me senti muito aliviada por ver que não era a única a apaixonar-me por um gay sem me ter apercebido, foi (e em certos momentos ainda está) a ser difícil ultrapassar este momento, porque dantes eu gostava dele de uma maneira que não tinha nunca antes gostado de ninguém. Agora já tenho tudo (praticamente) resolvido dentro da minha cabecinha: já me apresentou ex-namorados, já me contou inclusivamente como foi o seu processo de descoberta, já chegámos a dormir, por necessidade, no mesmo quarto, e não restaram "macaquinhos no sótão", como se costuma dizer

Tudo está assente, mas tendo passado apenas alguns meses, e tendo sido o sentimento anterior tão forte, preciso de algum tempo até conseguir pensar em apaixonar-me de novo por alguém.
Bem, estas coisas acontecem e fazem parte da vida, não é? E apesar de toda a dor e lágrimas, nem por um momento digo "se pudesse, voltaria atrás no tempo e não o conhecia". Porque acho que são estas experiências, embora marcantes e dolorosas, que nos fazem crescer e pôr à prova as nossas convicções, aquilo que defendemos. E gostei de ter descoberto que, para além de defender "na teoria" os direitos dos homossexuais, também os defendo na prática, sem pestanejar.
Mais uma vez, desculpem-me a extensão do post, mas senti necessidade de partilhar convosco esta história, convosco que vejo que compreendem a minha situação. Espero que este seja o meu primeiro post... de muitos!
Grace