é muito complicado saber-se o que será mais facilmente aceite pelos pais porque ambas as situações levantam dúvidas aos olhos deles.
Vejamos ambas as perspectivas mas um aviso primeiro: tudo o que eu escrever será opinião minha, fruto das minhas observações pessoais e de conversas que tive com pais de amigos (maioritariamente heterossexuais) e são da minha responsabilidade. Não têm autoridade cientifica absolutamente nenhuma. Estão incompletas obviamente e generalizadas apenas por simplificação de escrita (sou preguiçoso demais para andar a meter parêntesis em todo o lado para salvaguardar qualquer tipo de pensamento generalista errada), por isso, não se deve generalizar. Sei bem que existem pais e pais e que existem variáveis...
Tendo dito isto, as minhas observações incompletas:
Homossexualidade
Aos olhos dos pais a homossexualidade está associada a todo o tipo de comportamentos exagerados e (talvez) exibicionistas, para além da óbvia associação a um conjunto de estigmas e preconceitos sociais que os pais não conseguem ainda se desprender. Um pai parte do pressuposto (errado) de que o filho irá seguir, invariavelmente, os exemplos que eles próprios conhecem. Não conseguem aperceber-se de que não existe uma regra ou norma comportamental a nível social, assim como não existe uma norma para os heterossexuais. No entanto, a homossexualidade oferece estabilidade. Estabilidade no sentido de que os pais sabem exactamente que género o filho ou filha prefere e sabem, logo de início, aquilo que lhes poderá esperar no futuro. Mas, acima de tudo, sabem aquilo que podem não esperar no futuro. Infelizmente muitos pais associam homossexualidade a não terem netos, genros, família, etc. Partem do princípio que o filho ou filha (lá está) irá seguir toda uma norma de comportamentos a que estão habituados a ver nos media e a ouvir através de comentários. Apesar de não levar à estigma da promiscuidade de forma tão directa como na bissexualidade, a homossexualidade apresenta, aos olhos dos pais, todo um leque de comportamentos socialmente estigmatizados: idas a discotecas, flirt, frottage, encontros às cegas, viver em exclusão e/ou em solidão, etc. Coisas que os pais não estão preparados a lidar. É evidente que varia de pai para pai. Um pai mais informado terá um comportamento diferente de um pai desinformado. Não digo melhor, porque existem pais informados que têm comportamentos péssimos, apenas diferente.
Bissexualidade
A bissexualidade, por sua vez, tende a não definir nada aos olhos dos pais, no sentido de que ficam na dúvida se o filho ou filha prefere um género ou o outro. Não existe algo fixo do ponto de vista deles. A não-fixabilidade tende a associar-se a comportamentos não estáveis, remetendo, invariavelmente, para pensamentos de comportamentos promíscuos ou liberalismos sexuais, incluindo comportamentos de fetiches (como já ouvi em vários casos). Aos olhos dos pais (variando, evidentemente, de pai para pai) a bissexualidade é um terreno instável. Ou seja, nunca saberão como agir perante um filho bissexual porque nunca saberão se o filho (ou filha) prefere rapazes ou raparigas neste momento. Este ponto de vista tende a passar a ideia de que o filho está confuso, que anda indeciso perante a realidade e que não se sabe definir. Aqui é onde os pais tentam puxar a brasa à sua sardinha. Sabendo que um filho (ou filha) é bissexual um pai tende a puxar o filho (ou filha) para a heterossexualidade, numa tentativa de controlar a situação. Aos olhos dos pais, a bissexualidade é um estado provisório, transitivo, de hetero para homo e que, se for intervido a tempo, o próprio processo de transição poderá ser revertido. Não conseguem fugir dos seus próprios pré-conceitos e aperceberem-se de que a bissexualidade é uma orientação sexo-afectiva por si só. A culpa deste tipo de pensamento é, em parte, nossa (homossexuais) que, perante o medo da não-aceitação da nossa (homos)sexualidade usamos a típica bissexualidade como escudo porque imaginamos "não vou dizer que não gosto do sexo oposto por completo porque isso soará pior para os meus pais... assim, se disser que sou bissexual, talvez aceitem melhor porque pensarão que haverá sempre a hipótese de eu vir a apaixonar-me pelo sexo oposto." Depois existem os pais que conseguem lidar com a bissexualidade dos seus filhos desde que seja uma hetero-bissexualidade. Ou seja, sabem que os filhos se dizem bissexuais mas lidam melhor quando o filho (ou filha) tem uma relação heterossexual. Qualquer menção de um interesse por alguém do mesmo sexo torna-se logo algo em que não conseguem lidar, apesar de saberem e aceitarem a sexualidade do filho. Ou seja, não existe a aceitação plena da bissexualidade do filho por não conseguir lidar com a não-heterossexualidade do próprio filho - que implica lidar com todo um conjunto de situações e estigmas associados à homossexualidade, acrescida às próprias estigmas da bissexualidade.
Pronto... é um ponto de vista pessoal.