Crianças Transgéneras

[Diotima]

Já há algum tempo li no jornal, creio que no Público, uma reportagem sobre crianças transgéneras nos Estados Unidos. Havia o caso de uma menina que insistia em ir à casa-de-banho dos rapazes e os pais lutaram para lhe reconhecer esse direito (parece a nossa realidade ). Mas será que estas crianças têm já estes traços de personalidade definidos? Será que não mudam na adolescência? Como agir com uma criança assim? Ignorar, não levar muito a sério ou, pelo contrário, devemos agir com estas crianças de acordo com o género com o qual elas se parecem identificar?

[Thought]

Eu acho que a nossa personalidade define-se mais quando já somos jovens adultos e mesmo assim estamos em constanta mudança. Acho que se uma criança mostra de alguma forma que possa ser transgenera, acho que não se deve ignorar e que deve ser acompanhada e possivelmente ser tratada pelo género com que  se identifica. Mas nunca haver uma mudança de sexo efectivamente só quando esta tiver uns 18 anos, pois à partida fará uma escolha mais consciente e com outra maturidade, pois é uma decisão que não deve ser tomada em tenra idade.

[PsyGirl_Av]

"Crianças transgêneros desafiam leis e políticas escolares nos EUA" - http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/05/criancas-transgeneros-desafiam-leis-e-politicas-escolares-nos-eua.html

No distrito escolar da cidade de São Francisco, por exemplo, o gerente de programas de saúde escolar Kevin Gogin afirmou à reportagem que, de acordo com uma pesquisa com os estudantes, 1,6% dos alunos de ensino médio e 1% dos alunos dos anos finais do ensino fundamental se identificavam como transgênero ou variante de gênero.

"Transgender Child Who Wanted A Sex Change Talks About Life Now That He's In His 20s (VIDEO)"
http://www.huffingtonpost.com/2013/07/15/transgender-child-from-oprah_n_3588890.html

Opinião pessoal: Esta é uma questão tão complexa e sensível que até se torna difícil de ser discutida. É verdade que as crianças são "seres em construção" e que acabam por ser mais susceptíveis a pistas ambientais. No entanto, não podemos desconsiderar a influência da própria herança biológica, que pode, de certo modo, potenciar a criança a se sentir mal com o seu próprio género/sexo (sexo não é igual a género!). No entanto, esta questão vai bem além da personalidade! Não podemos associar, única e exclusivamente, o sexo/género e a personalidade - estão a querer sugerir que existem traços de personalidade distintos e associados ao sexo/género?
A criança é, legalmente, um Ser incapaz de se responsabilizar pelos seus actos, e tal ocorre por um motivo. Deste modo, embora não ache que uma possível manifestação de descontentamento para com o seu sexo/género deva ser ignorada (longe disso!), acho que deve ser muito bem analisada, mediante aconselhamento adequado. Assim sendo, considero que qualquer manifestação, neste sentido, de uma criança deve ser alvo de análise, e, quem sabe, posterior actuação. O mais importante é não ignorar, mas sim tentar compreender.

[Diotima]

Eu penso que existe uma diferença nítida entre meninos e meninas na maioria dos casos - não sei se poderei chamar traços de personalidade. As meninas gostam de brincar com bonecas e os meninos à bola e com carrinhos. Eu tenho uma menina de 5 anos na família e ela diz que gosta de brincar com as meninas porque os meninos são mal-comportados (são mais irrequietos, talvez). Depois, porque as coisas não são a preto e branco, existem meninos e meninas que fogem aos padrões. Mas penso que na maioria dos casos existem esses padrões de comportamento.

[Endovélico]

Eu penso que existe uma diferença nítida entre meninos e meninas na maioria dos casos - não sei se poderei chamar traços de personalidade. As meninas gostam de brincar com bonecas e os meninos à bola e com carrinhos. Eu tenho uma menina de 5 anos na família e ela diz que gosta de brincar com as meninas porque os meninos são mal-comportados (são mais irrequietos, talvez). Depois, porque as coisas não são a preto e branco, existem meninos e meninas que fogem aos padrões. Mas penso que na maioria dos casos existem esses padrões de comportamento.

Se calhar as meninas gostam de brincar com bonecas e os meninos à bola porque foi-lhes incutido direta ou indiretamente?

[Diotima]

Não me parece. Parece-me que é genuíno. Não me parece que ajude as questões dos transgéneros ou mesmo as questões dos homossexuais não reconhecer diferenças entre o masculino e o feminino. Acho que depois existem zonas de cinzento, onde as coisas se tornam mais difíceis de explicar mas acho que há diferenças masculino/feminino...

[PsyGirl_Av]

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Eu penso que existe uma diferença nítida entre meninos e meninas na maioria dos casos - não sei se poderei chamar traços de personalidade. As meninas gostam de brincar com bonecas e os meninos à bola e com carrinhos. Eu tenho uma menina de 5 anos na família e ela diz que gosta de brincar com as meninas porque os meninos são mal-comportados (são mais irrequietos, talvez). Depois, porque as coisas não são a preto e branco, existem meninos e meninas que fogem aos padrões. Mas penso que na maioria dos casos existem esses padrões de comportamento.

Se calhar as meninas gostam de brincar com bonecas e os meninos à bola porque foi-lhes incutido direta ou indiretamente?

Não nego que existem características associadas a cada sexo. De facto, em termos biológicos, tem vindo a ser sugerido que os elementos do sexo masculino tendem a maturar mais tarde do que os do sexo feminino. No entanto, o factor ambiente é preponderante. Desde a nascença, por norma, cada sexo é associado a determinados objectos, cores e actividades. Aos meninos são oferecidos carros, bolas de futebol e roupas azuis; ao passo que as meninas são contempladas com kits de cozinha, bonecas e roupas cor-de-rosa. Claro que existem excepções, mas temos de atender à maioria.

[Diotima]

Acho que teríamos que colocar um grupo de crianças num ambiente neutro e dar-lhes carrinhos e bonecas para ver o que meninos e meninas escolheriam. Na minha opinião as meninas ainda pegariam nas bonecas e os meninos nos carrinhos. Na maioria, claro.

[PsyGirl_Av]

Para isso teriam de ser "crianças em branco", ou seja, sem qualquer experiência prévia. Teriam de ser privadas de qualquer influência externa, ou seja, enclausuradas numa sala, unicamente, com os objectos. Experiência interessante, mas anti-ética  Talvez na década de 30 tivéssemos oportunidade de a concretizar.

[Diotima]

Claro que eu tinha noção disso quando escrevi o post. É a dificuldade básica das ciências sociais...

[PsyGirl_Av]

Alternativas possíveis: simular, utilizando programas de realidade virtual (dispendioso e pouco fiável) ou realizar questionários (metodologia commumente utilizada "na falta de melhor", mas igualmente pouco fiável) 

[Endovélico]

Eu quando era pequeno brincava às barbies com o meu irmão. E tínhamos bonecas de ação.

[PsyGirl_Av]

Eu quando era pequeno brincava às barbies com o meu irmão. E tínhamos bonecas de ação.

Se assim era, então vocês tinham acesso às Barbies, ou seja, o ambiente que vos circundava facultava essa possibilidade.

[Diotima]

Ok, eu também já vi um menino a brincar com uma barbie e vi o preconceito que existe "estás a brincar com bonecas? Olha que as bonecas são para as meninas". Mas a minha questão é outra: se o feminino e o masculino são meras construções sociais ou se, pelo menos, a construção social é predominante, por que é que as questões transgéneras são tão vincadas? Por que é que há pessoas que sofrem tanto psicologicamente por se identificarem com o outro sexo? Isto é, se é uma questão social não deveria implicar tanto sofrimento interior. Eu penso que os elementos intrinsecos do sexo oposto predominam naquela pessoa e por isso ela se identifica com o sexo oposto e sente-se no corpo errado. Se o masculino/feminino fossem questões sociais (que também são, sem dúvida) não haveria uma identificação tão vincada com o sexo oposto. É por isso que eu acho que não ajuda ás questões dos transgéneros pensar no masculino e no feminino como meras construções sociais. (E atenção que a minha formação é na área das ciências sociais).

[PsyGirl_Av]

Há várias décadas que se encara o Ser Humano como sendo uma dupla construção: Ambiental e Biológica. Eu acredito que exista uma predisposição genética em casos de transexualidade e homossexualidade. No entanto, não descarto a possível preponderância de experiências de vida prévias, com enfoque em processos de vinculação e interacção de pares.

[Diotima]

Sim, parece-me que encarar o Ser Humano como produto de factores biológicos e ambientais é a melhor abordagem .

[Endovélico]

Eu quando era pequeno brincava às barbies com o meu irmão. E tínhamos bonecas de ação.

Se assim era, então vocês tinham acesso às Barbies, ou seja, o ambiente que vos circundava facultava essa possibilidade.

Não digo o contrário, apenas afirmei que tendo acesso tanto a brinquedos para meninas como para meninos eu escolhia os brinquedos para meninas (embora também brincasse com bonecos de ação).

[Simão]

Eu sou trans e quero dizer umas coisas.
É diferente do ser gay, porque isto tem tudo de ver com sexualidade.
Ser trans é simplesmente ser rapaz ou rapariga. Só o corpo não corresponde.
Mas uma pessoa sabes  que é rapaz ou rapariga, isto não é diferente do que como outro sabe. E sabes desde cedo. Para mim era desde quando andei no jardim de infância. Os meus pais não tem nada de ver com isto, não me puxaram me para um lado ou outro. Mas se vês fotos antigas, pareço sempre rapaz. Até um primo (o meu melhor amigo de infância) trato me por rapaz e uma prima até deu me um nome masculino. Eu nunca lhe disse que era rapaz, eles sentiram. Era natural.

Mas eu tenho de dizer que não tinha problemas de ir a casa de banho de meninas em criança. Isto acho tem de ver com os pais a conduzir este  desprezo. Mesmo se não fazem com intenção. Mas não posso dizer com certeza. O meu carácter pode ser muito diferente do que dele. Eu sou não sou muito rebelde. Não procuro dificuldades.