Alan Turing, que decifrou o código Enigma, recebe perdão a condenação por homossexualidadeMaria João Guimarães
24/12/2013 - 19:05
Rainha atribui perdão póstumo a matemático após uma longa campanha.
Foi um matemático brilhante que decifrou um código usado pelos nazis e terá assim encurtado a II Guerra Mundial. Mas ao reconhecer uma relação homossexual foi condenado, afastado do trabalho e submetido a castração química. Morreu em 1954. Esta terça-feira, após uma intensa campanha e um pedido do ministro britânico da Justiça, a Rainha Isabel II concedeu-lhe perdão a título póstumo.
Turing desenvolveu uma máquina contra a máquina que usava o código Enigma dos militares nazis alemães. Criou um protótipo em 1940, a que chamou simplesmente Vitória. Três anos depois, essas máquinas interceptavam e descodificavam cerca de 84 mil mensagens por mês, cerca de duas por minuto.
Turing decifrou ainda o código particular usado pelos submarinos alemães que atacavam navios mercantes, algo que, lembra a BBC o então primeiro-ministro Winston Churchill disse ser “a única coisa que realmente me assustou durante a guerra” – estes conseguiram atacar tantos navios que havia o risco muito real dos britânicos não terem o que comer. Interceptando e descodificando as comunicações, os navios conseguiam fugir do perigo submarino.
A sua homossexualidade não era segredo para os mais próximos, apesar de proibida por lei, mas a seguir a uma queixa à polícia por roubo caiu no domínio judicial, ao ser relatada pelo agente responsável pela visita à casa, começando um processo legal. Turing confessou e foi condenado, em 1952, pela relação que mantinha com um jovem de 19 anos. Escolheu um tratamento experimental, a castração química, à prisão. O trabalho de criação de algoritmos para decifrar códigos que ainda estava a fazer foi interrompido, e o matemático afastado da agência de espionagem britânica (GCHQ) onde trabalhava.
Dois anos depois de ser castigado, morde uma maçã envenenada com cianeto no seu laboratório. Há quem diga que a maçã do logotipo da Apple (que já foi das cores do arco-íris) era uma homenagem a Turing, considerado o percursor dos computadores. A morte foi classificada como suicídio, embora muitos, começando pela sua mãe, refutem a conclusão.
Como é que o herói que venceu o inventou o supostamente impenetrável Enigma, e que segundo historiadores permitiu encurtar a guerra pelo menos dois anos, salvando milhares de vidas? Na altura, diz o diário espanhol El País, os homossexuais eram vistos como potencialmente fracos e possíveis presas fáceis nas mãos do inimigo, e Turing seria assim um “risco para a segurança”.
A campanha para o perdão começou já em 2009, liderada por umprogramador informático, John Graham-Cumming. Peritos defenderam então que não era possível um perdão já que Turing foi culpado do que era um crime à altura da condenação. O então primeiro-ministro Gordon Brown fez um pedido de desculpas público, e o caso ficou por aí.
No entanto, o Executivo conservador insistiu, e o perdão foi assinado.
O astrónomo real Martin John Rees, que defendeu a causa na câmara dos Lordes, congratulou-se com a acção mas defendeu que se deveria ir mais longe: “É uma boa notícia mas teria sido ainda melhor se tivesse sido parte de um perdão geral a todos os que têm antecedentes penais pela mesma razão."
Peter Thatchell, activista dos direitos de homossexuais, repeti esta ideia, citado pelo diário britânico The Guardian. “Deve-se desculpa e perdão a mais de 50 mil homens que também foram condenados pela mesma lei por terem tido relações homossexuais consentidas no século XX”, disse.
http://www.publico.pt/mundo/noticia/alan-turing-que-decifrou-o-codigo-enigma-recebe-perdao-a-condenacao-por-homossexualidade-1617454#/0Alan Turing
Perdão para matemático que descodificou código nazipor AFP, traduzido por Susana Salvador
O matemático britânico Alan Turing, que desempenhou um papel fundamental na descodificação do código da máquina Enigma, recebeu o perdão real, a título póstumo, mais de 60 anos após a sua condenação por homossexualidade.
Considerado o "Einstein da Matemática", este pioneiro da informática morreu em 1954, aos 41 anos, envenenado com cianeto. A tese de que se suicidou, normalmente falada, nunca foi formalmente provada.
Turing tinha sido condenado dois anos antes por "atentar contra a moral" e condenado a castração química por causa da sua homossexualidade, ilegal no Reino Unido até 1967.
Durante a sua vida, Turing desenvolveu as bases da informática moderna e defeiniu os critérios da inteligência artificial ainda em vigor: o famoso "teste Turing", que se baseia na capacidade de uma máquina em manter uma conversação.
Mas para a maioria das pessoas, o seu maior feito foi ter conseguido quebrar os códigos da máquina Enigma, usada pelos submarinos alemães que cruzavam o Atlântico Norte durante a II Guerra Mundial.
Alguns historiadores acreditam que foi este golpe de génio a precipitar a queda de Hitler, que de outra forma teria aguentado mais ou ou dois anos.
Alan Turing foi perdoado hoje, 59 anos após a sua morte, pela Rainha Isabel II. A proposta foi feita pelo ministro da Justiça, Chris Grayling, que definiu o matemático como "um homem excecional com um espírito brilhante".
"A sua genialidade foi usada em Bletchey Park [principal local de decifração britânico] durante a II Guerra Mundial, onde a sua contribuição foi decisiva para desvendar o código Enigma, contribuir para pôr fim à guerra e salvar milhares de vidas", afirmou o ministro.
"A sua vida foi mais tarde ofuscada pela sua condenação por homossexualidade, condenação que consideraríamos hoje injusta e discriminatória, e que agora é anulada", acrescentou.
Nos últimos anos, intensificaram-se as campanhas no Reino Unido para reabilitar a imagem de Turing, um excêntrico que usava máscara de gás quando andava de bicicleta para evitar a febre dos fenos.
Em 2009, o então primeiro-ministro, Gordon Brown, tinha pedido desculpas póstumas, reconhecendo que o matemático foi tratado "horrivelmente". Em 2012, ano do centenário do seu nascimento em Londres, onze cientistas britânicos, entre os quais Stephen Hawking, tinham pedido a anulação da condenação daquele que consideraram "o matemático mais brilhante dos tempos modernos".
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