Na continuação do post anterior;
Câmara de Lisboa cedeu mupis sem custo para campanha cívica da ILGApor Agência Lusa, Publicado em 24 de Fevereiro de 2010 O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa (PS), justificou hoje a cedência de mupis da autarquia à associação ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero com o caráter cívico da campanha pela não discriminação dos homossexuais.
A questão foi levantada na reunião pública do executivo municipal pelo vereador social democrata Pedro Santana Lopes, que considerou que faltou "bom senso" a uma campanha que aparece "com o cunho da Câmara".
Os cartazes mostram uma mulher e uma criança e a legenda "Se a tua mãe fosse lésbica, mudava alguma coisa?".
"O que me fez impressão naquela campanha é o facto de ser dirigido às crianças", afirmou Santana Lopes, relacionando a campanha com o tema da adoção por parte de homossexuais, não prevista na lei que aprova o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, já adotada pelo Parlamento.
António Costa argumentou, contudo, que a campanha em causa "não tem nada a ver com a adoção" por parte de casais homossexuais. "Tem a ver com a não discriminação e chama a atenção para o facto de, independentemente da adoção, haver pais e mães homossexuais", disse.
"É uma campanha pela não discriminação, não me parece que suscite particulares questões", frisou o autarca.
António Costa explicou que as estruturas da autarquia para os mupis são usadas para "mensagens próprias do município", para promoção de actividades culturais, quer promovidas pela Câmara quer por outras entidades, e para "qualquer campanha de carácter social e cívico".
Foi neste âmbito que foram cedidas à ILGA, explicou, "sem custos" para a autarquia na campanha. "A contrapartida é a inclusão do símbolo do município [nos cartazes], sem custos. O município apenas disponibiliza o espaço", informou.
O grupo do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa entregou na terça feira um requerimento questionando a Câmara sobre as condições do apoio camarário à campanha.
Para o presidente do grupo municipal social democrata, António Prôa, não basta apenas questionar os valores e as condições do apoio camarário, mas também a possibilidade de a iniciativa servir de "carta de intenção" para uma eventual tomada de posição do PS na Assembleia da República.
"O que mais nos preocupa é o que isto significa em termos de estarmos ou não a preparar o caminho para um próximo passo, que é a adoção por casais homossexuais", afirmou o responsável, para quem a campanha remete para a defesa deste direito "sob a pretensão de uma mensagem anti-homofobia".
http://www.ionline.pt/conteudo/48390-camara-lisboa-cedeu-mupis-sem-custo-campanha-civica-da-ilga________________________________________________________________________________________________________________________________________
Post de Paulo Côrte-Real no blog "Jugular" referente às polémicas em torno da campanha da ILGA;
A realidade, agora a coresPaulo Côrte-Real - 25 de Fevereiro de 2010Depois desta notícia em que descobrimos também que o grupo do PSD na CML parece acreditar que é ilegal uma mãe ser lésbica ou um pai ser gay (o grupo do PSD pediu esclarecimentos e claramente precisa de ser esclarecido), António Costa vem explicar o que deveria ser evidente.
1. A campanha da ILGA, executada pro bono pela Lowe, obteve o apoio na divulgação da SIC Esperança e da CML em Lisboa, através da cedência de um circuito de 40 mupis integrado na rede da CML que se destina a publicidade não comercial. O mesmo apoio aconteceu de resto em Janeiro 2005 com a campanha "Pelo direito à indiferença", na altura com um executivo camarário do PSD (liderado então por Carmona Rodrigues, pouco antes do regresso de Santana Lopes, após este ter cessado funções como Primeiro-Ministro).
2. Para quem tem dificuldade em perceber, porque o preconceito frequentemente tolda o entendimento, e porque a ignorância também não ajuda à leitura, o objectivo da campanha é que cada pessoa seja capaz de pensar sobre si e sobre as pessoas que lhe são próximas e queridas e que perceba que lésbicas e gays são, espanto dos espantos, pessoas - com relações familiares e relações de afecto cujo fulcro se sobrepõe naturalmente à orientação sexual.
E claro que a campanha não é sobre adopção mas é também sobre parentalidade e sobre a irrelevância da orientação sexual para o seu exercício. Sim, há muitas mães lésbicas e pais gays em Portugal - só é preciso saber olhar à volta. Que isso "choque" quem quer que seja só prova aliás a necessidade da campanha. Em todo o caso, não deixa de ser impressionante a obsessão com a adopção (e aqui pelos vistos por parte de quem nem sequer percebeu que existe adopção singular em Portugal) sempre que se faz uma alusão a qualquer tema relacionado com parentalidade. É que há muitos outros.
Mas é evidente que o "direito à indiferença" é o objectivo último nesta campanha também. Ao questionar-se, cada pessoa poderá perceber que a orientação sexual é só mais uma característica que não deveria justificar um piscar de olhos. Mas porque estamos longe dessa indiferença, como temos vindo a ver repetidamente, é fundamental haver muito trabalho de luta contra a discriminação. E é fundamental que os poderes públicos participem nessa luta, que está longe do fim. É isso, de resto, que a CML tem vindo a fazer em diversas iniciativas ao longo de mais de uma década, sob diferentes gestões.
Vale a pena lembrar que o mote com que a ILGA lançou esta campanha foi "Unir e não fracturar", que poderia ser uma boa descrição da luta mais abrangente contra a discriminação. E vale a pena também lembrar que a discriminação é considerada um desvalor pela nossa Constituição - nomeadamente a que acontece com base na orientação sexual, de acordo com a redacção actual aprovada com a unanimidade dos partidos com representação parlamentar. O objectivo do PSD quer na AR quer na CML já foi também o desta campanha, portanto.
Parece que entretanto este PSD optou por incentivar a fractura - para além deste pedido de esclarecimento, basta ver que Pacheco Pereira inclui com orgulho fotos de neonazis no seu blog ou que Marcelo Rebelo de Sousa foi cantar o "We are family" para a Av. da Liberdade. Mas se algum PSD procura agora incentivar posições extremistas e de um populismo tosco que, tal como no passado, se revelarão certamente contraproducentes, esse aparente retrocesso civilizacional não consegue impedir o progresso no país - nem consegue impedir a realidade, agora a cores.
http://jugular.blogs.sapo.pt/1622331.html