O aparecimento e a dinâmica destes espaços tem um contexto. Aliás, já abordei este tema com um familiar que é antropólogo e que me confirmou isto que vou aqui expor.
Antes do aparecimento da internet, havia uma tendência para a comunidade homossexual procurar espaços públicos para a procura de parceiros sexuais ou simplesmente para fazer amizades. Esses locais surgiram espontaneamente, e muitos também desapareceram por várias razões. Quando surgiam, ficavam ligados à população LGBT, como espaços que com esta comunidade se identificavam, onde se partilhavam vivências, onde se encontravam conhecidos...
Há décadas atrás, com o advento do turismo, o Algarve começou a receber milhões de turistas nacionais e estrangeiros, muitos deles obviamente homossexuais e bissexuais. Em épocas em que não havia Gaydar, Rede Ex Aequo, ManHunt, Mirc ou Facebook, nem noite gay friendly (isto até há cerca de 7/8 anos atrás) muitos gays afastavam-se das praias principais para passear nas dunas e nos areais mais desertos, à procura de parceiros, para praticar nudismo ou simplesmente para fugir à confusão que já no final dos anos 80 assolava as principais praias da região.
Com o passar dos anos várias destas praias mais isoladas começaram a ser preferidas em relação a outras, a coisa começou a andar de boca em boca e até a população local, em especial os pescadores e os apanhadores de marisco diziam que a praia x ou y era a praia dos p*n*l**r*s. Por exemplo, no meu caso desde a minha infância que ouvia dizer que a extremidade da Praia do Barril e a Praia de Cacela Velha eram praias com maricas estrangeiros e espanhóis.
Naquela altura, quando um homossexual da região queria procurar parceiro sabia que a forma mais fácil e segura era ir a uma destas praias.
Não é por acaso que a maioria dos frequentadores actuais destas praias tem mais de 30 anos, sendo poucos os adolescentes e jovens com menos de 25 anos que por lá se encontram, salvo um ou outro casal de namorados desta faixa etária e um ou outro rapaz mais curioso que ande por lá perdido.
Noutras regiões de Portugal outros espaços tiveram esta função de ponto de encontro da população homossexual e hoje em dia ainda são associados aos LGBT. É o caso da praia 19, da praia do Meco, do Príncipe Real, do Chiado, de alguns urinóis públicos (sim por muito que choque os jovens no passado houve e ainda hoje há engate gay em urinóis e WC's)...
Ninguém impõe estes espaços a ninguém. Quando surgiram e se desenvolveram, não havia fóruns na net a divulgar nem revistas gay a fazer publicidade a estes espaços.
Blackdi, consegues imaginar um casal de rapazes com 20 anos a beijar-se e a namorar descontraidamente numa praia «comum»?