E se forem os nossos pais a discriminarem-nos

[koyodu]

Bom eu andava a passear pelos tópicos aqui da ex-aequo, quando me deparei com um post, que me deixou intrigado e mesmo chocado.

Tomei a iniciativa de trazer a citação geradora de tal perplexidade, de alguém que decidiu confrontar a sua homossexualidade com os pais.

     Contei, estupidamente (já me arrependi milhentas vezes de o ter feito), em Março ao meu pai, e em Abril à minha mãe. Foi (e é) um grande pesadelo, em grande parte porque os meus pais são as pessoas mais homofóbicas que conheço.
    Entretanto, um último comentário, acerca de os pais "dizerem coisas da boca para fora". Da quantidade de vezes que, dissimuladamente, a minha mãe já me chamou coisas como "doente", "inútil" e "anormal"  , duvido seriamente que tenha sido "da boca para fora"... Fica levantada a questão. Dói, quando são os próprios pais a discriminarem-nos...

Eu gostaria de saber a vossa reacção perante tal situação, o que fariam se contassem aos vossos pais sobre a vossa homossexualidade e eles respondessem com agressão verbal (discriminação)?

Se já contaste aos teus pais, conta-nos também um pouco a tua experiência 

[bruised]

Já faz algum tempo que contei aos meus pais, mais uns mesitos e já terão passado dois anos.
Contei-lhes não por iniciativa própria mas porque descobriram e confrontaram-me com a situação, face à qual como em tudo na vida escolhi dizer a verdade pois me parece sempre ser o melhor caminho.
Na altura em que contei ouvi os maiores desaforos que alguma vez se pode ouvir especialmente da boca dos pais. Nunca ninguém, nem mesmo um desconhecido foi capaz de chamar tantos nomes e dizer mal de homossexuais como os meus pais.  Chamaram-me de maluco, doente, anormal, tarado, sujo.... mais uma série de coisas que voces podem imaginar e que n vou escrever, disseram que n podia ser filho deles! Na altura senti-me a pior pessoa do mundo e passava as noites a chorar. A cada vez que chegava a casa era confrontado com situações do género e era basicamente bombardeado com nomes menos agradáveis.
Sem saber bem como reagir e como a minha sobrevivência dependia deles fui deixando os dias passar na esperança que tudo acabasse. Sofri bastante mas pude contar com o apoio do meu amor que tb teve metido ao barulho e até foi ameaçado de morte.
Tudo mudou quando decidi ir ao psicologo com os meus pais! Não sei o que o homem lhes disse mas as coisas lá em casa melhoraram um pouco mas ainda havia muito ódio, até que as coisas um dia se complicaram com o meu pai e eu decidi sair de casa!
Passados uns meses pediram-me para voltar a casa e foi-me dito que poderia fazer o que quisesse desde que estudasse e ficasse ao pé deles, isto é, n os abandonasse. Assim fiz, e as coisas hj em dia vão de vento em popa embora o assunto continue tabú.
Como já disse na altura passei por coisas que ninguém devia passar mas hj em dia páro, penso e posso dizer que tudo o que os meus pais queriam era o meu bem, só que o que era bem para eles n era o que era bem para mim, e dou graças por eles terem chegado à conclusão que o melhor era deixar-me viver a seu lado e ser livre! Sei q estão arrependidos pois tentam comprar o seu perdão com bens materiais! Já ganhei um carro e tudo! Pena ainda n me poderem dar aquilo que eu mais queria: o meu amor fazer parte da minha familia e convivermos entre todos. Talvez isso leve mais uns anos ou talvez nunca aconteça mas já vi muita coisas acontecer e melhorar nestes dois anos que passaram para deixar de ter esperança. 

[koyodu]

Bom a meu ver este tópico é um pouco diferente do tópico que a bluejazz falou... Penso que discriminação é um pouco diferente e mais forte, do que o simples facto de os pais aceitarem ou não a homossexualidade do(a) filho(a)


O que eu peço aqui, é um comentário sobre o que fariam, ou o que acham que iriam fazer se realmente estivessem a ser discriminados pelos vossos pais, se eles vos chamassem de doentes, anormais etc.
Eu não sei o que faria, não sei se fugia de casa, ou se respondia á letra...

Se mesmo assim ainda acham que o tópico se está a repetir peço aos moderadores a sua remoção 

[pipinha17]

Contei aos meus pais e eles n aceitam a minha mae nega se a aceitar dix k so a vergonha, a desgraça e blá blá blá............. já o meu pai n me dix nada nem fala d assunto! Agora a minha mae ta-me sempre a jogar certas coisas á cara, ela n aceita é um facto em fim n posso fazer nada pode ser que um dia venha a ponderare a ideia, um dia quem sabe!

[Ange]

Nem sei exactamente onde votar...
No decorrer de uma conversa a minha mãe ficou a saber da minha orientação. Na altura gritou comigo e proibiu-me de lhe dar a conhecer a minha vida fora das portas desta casa. Reagiu muito mal, discriminou-me, pois nunca agiu assim com os namorados (homens) que tive.
Entretanto não se tocou mais no assunto. Outro dia o meu pai chegou perto de mim, começou a brincar comigo como usualmente faz, e entre as cócegas começou a dizer: "Esta cabeça só pensa em namorar, em raparigas, em rapazes..." e continuou a fazer cógecas e a brincar comigo. A parte do namorar é para se meter comigo, ele sabe muito bem que não sou assim, mas fiquei a pensar na parte de ele ter dito "raparigas e rapazes", quando anteriormente falava só em pessoas do sexo masculino. Será que o meu pai sabe?... e que aceita?... mas eu receio tocar no assunto, uma vez que ele costuma ter discursos excessivamente homofóbicos... 

[koyodu]

Contei aos meus pais e eles n aceitam a minha mae nega se a aceitar dix k so a vergonha, a desgraça e blá blá blá............. já

Se é capaz de te atirar isso á cara, é uma discriminação, decerto magoa-te ouvir essas coisas. Tenta uma nova abordagem, fala-lhes de como te sentes com o silencio e reprovação deles.

De qq forma a meu ver, quando se conta aos pais sobre a nossa homossexualidade, é normal que reajam mal no inicio, é normal que não queiram aceitar essa realidade. Uma maioria só precisa de tempo.

O pior são aqueles que chamam de nomes e nos espezinham...........  , eu acho que saía de casa se alguma vez ouvisse a minha mãe a chamar-me de anormal ou aberração.

[danis]

Não contei, vivo so com a minha mãe, e a nossa relação não é das melhores, o que faz com que não tenha um grande á vontade para com ela, ponho em hipotese ela um dia saber, ate porque, não conseguirei esconder e viver uma mentira o resto da vida, mas tudo a seu tempo, não penso muito nisso, se ela gostar de mim, ira aceitar-me tal como sou ..

O meu pai já é uma situação aparte, pouca relação temos, pq os meus pais são separados desde que tinha 1ºano, nunca vivi com ele nem qq laço familiar temos, não imagino um dia ele saber ..

[filipito]

mas o problema maior e kd nao somos nos a contar e alguem lhes vem contar....k foi o k se passou cmg e foi horrivel

a expressao k me doeu mais ouvir,vinda da boca do meu pai foi:«eu nao kero ter um filho k gosta de apanhar no c*»(dsclpem a linguagem mas e so pa mostrar ate k ponto os nos pais tb nos discriminam)

[Queen_Lita]

  pah...eu até ontem spr pensei que se contasse 1 dia aos meus pais cm eu sou que eles aceitariam..mas ontem,ao ver um filme que alugamos e que 2 mulheres apaixonaram-se,a minha mão só dizia:
ai meu deus!que horror!(do genero---desculpem a xpressão---elas deviam era levar 1 tiro nos cornos!) fg..eu não lhes contem nd ainda,mas...fg...já perdi as esperanças de poder contar com eles...fg....felixmente posso contr com amigos vdds...é o que me dá força para continuar...bjs

[bluejazz]

Queen_Lita, infelizmente muitos de nós tem de ouvir comentários desses dos próprios pais e é muito doloroso. Uns pais fazem sem noção nenhuma (e se calhar morriam de arrependimento se soubessem ou é o que acontece quando sabem). Outros é porque já se aperceberam (não penso que seja o teu caso) e querem enviar mensagens indirectas o que é ainda mais horrível. Acho sensato que decidas não dizer para já. E nunca sem estar totalmente preparada. Se um dia souberem e te perguntarem porque não contaste mais cedo, se estivesse no teu lugar, eu contaria a verdade (mas sem ser em tom de acusação), para que compreendam bem que por ti gostarias de ter contado mais cedo. Força!

[Scorpio_Angel]

Itália: pai é preso após esfaquear filho homossexual

Um homem foi preso após ferir com uma faca de cozinha o filho de 18 anos na cidade de Palermo, sul da Itália. O motivo seria por ele ser homossexual, algo que o pai considerou uma "desonra e uma vergonha".

O garoto foi esfaqueado no braço e na mão direita e internado em um hospital da capital siciliana, onde passa bem. O pai, 53 anos, irá responder a processo por maus tratos e lesões. Ele legou que se tratava de uma "questão de honra e vergonha".

- Meu pai nunca aceitou. Não quis aceitar o fato de que sou gay. Tentei convencê-lo de que não é uma doença, nem uma coisa suja, mas foi inútil - declarou o garoto ferido.

Segundo inúmeras associações defensoras dos direitos dos homossexuais, o governo italiano deve aprovar o mais rápido possível uma lei contra este tipo de violência, diante da multiplicação de agressões no país.

http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/05/26/e260522138.html

[τοRoyalSizeΚΞ]

I put a spell on you! 

[sa]

Eu contei á minha mae já lá vao uns bons anos. Nunca aceitou e continua a nao aceitar.É horrivel como uma mae pode tratar uma filha, pelo facto de ser lesbica.Sei que nao posso e nunca poderei contar com ela, mas felizmente tenho os meus amigos e familiares que sabem e me apoiam.

[Valmont]

Os meus pais desconfiam, de certeza absoluta, mas jamais me perguntaram sobre...
Não terá sido por acaso que, no decorrer de uma conversa telefónica, após eu ter respondido afirmamente ao meu pai sobre se eu seria simpatizante do FCP, ele ter dito que eu fazia bem porque "pelo menos, o Pinto da Costa gosta de mulheres". Ora, não é preciso ir a Coimbra (passo a expressão  ) para tirar daí as ilações óbvias. Não retorqui, limitando-me a fingir que não tinha ouvido... Mas também é-me indiferente o que ele diz e/ou pensa...
A minha mãe também já me mandou umas boquitas a propósito da minha parafernália de cosmética  Mas com ela o caso é diferente 

[Arms]

Não fui descriminado per si. Ou, pelo menos julgo que não. O meu pai pôs-me fora de casa na altura da separação dos meus pais. Aliás, fê-lo de uma forma totalmente grosseira. A questão sempre coloquei a mim mesmo era se ele me teria posto fora de casa por ter descoberto ou teria-me posto fora de casa por consequência do divórcio? Tipo, ele colocou a minha irmã também fora de casa. Daí a minha dúvida toda. Eu sei que o meu pai sabe porque o meu irmão (que ainda mantém contacto com ele) já me disse. A questão atormentava-me antes. Agora não. Não relaciono de forma alguma com o meu pai. Aliás, nem o vejo há mais de sete anos. Pelo que já não me afecta.

Quanto aos casos que vi neste tópico... Dói ler e dói aperceber que esta realidade existe. Ao ler os testemunhos bem vejo a sorte que tenho em relação ao meu passado e em relação à minha mãe.

[Valmont]

[...]Quanto aos casos que vi neste tópico... [...]Ao ler os testemunhos bem vejo a sorte que tenho em relação ao meu passado e em relação à minha mãe.

As mães são mães...  Mãe, filho... Complexo de Édipo... Amor maternal... Eu sei lá! 

[S0ol]

eu comtei á mnha mae á uns meses, sei que ela precisa de tempo para dgerir isto tudo, mas as bocas dela sao uma "maravilha" para magoar...se bem que nao acredito que ela aceite a mnha orientaçao, por isso vou  ouvir muitas boquinhas vindas dela

[Cátia.]

Eu não contei, a minha mãe quando veio cá a casa mexeu nas minhas coisas e descobriu, curiosamente uma pagina do forum que eu tinha imprimido. E coincidencia das coincidencias era do topico cartas para os pais. Antiga. Levou-a, mostrou ao meu pai e quando o meu irmao e a minha cunhada foram passar o passado 25 de abril à casa dos meus pais a minha mae mostrou-lhes e tiveram uma conversa. Não era minha intenção ficarem a saber desta maneira nem nesta altura.
A conversa que os meus pais tiveram com o meu irmao e com a minha cunhada correu bem, a unica coisa menos boa foi a minha mae ter dito que poderia ser uma fase. O meu irmao contou-me o que se tinha passado e a reacção deles, eu fiquei espantada porque achava bom de mais eles tarem a reagir tao não tao mal como eu achava que iriam reagir. So soube que a minha mae tinha levado a pseudo carta cá de casa pelo meu irmao porque os meus pais nao falaram sobre isso e a minha mae nao tinha comentado nada.
Como já sabia que eles sabiam, e que nem estavam assim tao mal, achei que o melhor seria ter uma conversa como deve ser com eles. Decidi falar primeiro com a minha mae, aproveitar o facto de ela vir cá a casa sem o meu pai, até porque o meu pai é-me mais distante e pensava que a minha mae iria reagir melhor. Enganei-me porque o meu pai está mto mlhor.
Desde o último 25 de abril estive 3 vezes com a minha mãe. Logo na primeira vez que tive decidi ter a tal conversa. Foi horrivel. Ouvi coisas ridiculas, que me magoaram muito. Nem nas nossas piores discussões eu tinha ouvido coisas parecidas. Coisas que vieram da boca da minha mãe e das quais eu me envergonho tanto que muito do que foi dito nem sequer à minha namorada fui capaz de contar. Senti-me mal, com tudo, mas tive de ouvir coisas de cariz sexual que fiquei mm  enfim. Entre outras coisas e tentativa de agressão, sugeriu a minha ida ao psiquiatra e afins.
Até hoje não nos falamos, e não me parece que esteja para breve a possivel pseudo reconciliação. Moro numa casa onde os meus pais ja moraram a tempo inteiro, antes de se reformarem e voltarem para a terra de onde nasceram. Sou estudante universitária e como ainda nao trabalho sou dependente, financeiramente, dos meus pais. Todos os meses recebo, por transferencia bancaria, dinheiro para os meus gastos pessoais e para a faculdade, essa quantia manteve-se, acho que mto pq a minha mae nao se quer dar ao trabalho de ir ao banco mudar isso, inalterada. À parte recebo dinheiro para a casa, contas, alimentação e afins, esta quantia foi reduzida e a minha mae passou a vir ca menos vezes, ou seja, antes tinha um x que dava para um certo tempo agora tenho um x-y que tem de dar para mais tempo. A unica solução que tenho arranjado é abdicar das minhas coisas para gastar com despesas da casa. Eu usava um dos carros deles, que me foi retirado desde essa conversa. A segunda vez que tive com ela foi num casamento de um familiar, não falamos. Fui ter com o meu irmao a casa dele, pq nao queria chegar a casa dos meus pais sozinha, e fomos os tres juntos na viagem a uma sexta à noite e domingo de manha já me estava a vir embora. Mas o pouco contacto que tivemos não me livrou de ouvir umas bocas. Da terceira vez não ouvi nada porque não falei com ela. Ela veio cá passar uns dias a casa, para dar um jeito às coisas, e foi embora um dia antes de eu fazer anos, quando a vi ir embora fui falar com ela, tb pq se ia para nao passar o meu aniversario cmg, e perguntar quando é que ela voltava. Ela foi-se embora a chorar.

[Atzecs]

Não me assumi, e já senti na pele.

Minha mãe sabe... Diz-se e com razão que mãe sabe tudo. Numa discução acalorada sobre direitos e discriminação aproveitei para por a hipotese de eu ser em cima da mesa... Levei com um "Isso era a pior coisa que me podias fazer" em cima. Infelizmente, a minha mãe deixou de pensar há muuuuuuuuuuito tempo, e agora diz a primeira coisa que lhe vem à cabeça.

O meu pai, é um caso diferente. Sinto que não me conhece; mal falamos, mal convivemos, devido à carreira dele (que, infelizmente, tem estado e continuará a estar à frente da familia por ser impossivel te-la de outro modo). Mas, sei que me aceitará sem problemas... É uma pessoa com grande clareza de espírito e de mente, e sempre manteve uma mente aberta a novas ideias e conhecimentos. O grande problema é mesmo contar... O poço emocional não me dá confiança para contar assim do nada...

Mas esse problema deverá ficar solucionado esta quarta.

[chromeo]

Btw, quantos de vocês é que não sentem que as vossas mães sentem uma raiva surda em relação aos vossos pais? O prazer do comando total de um dos filhos, o roubo do filho ao pai, um ressentimento profundo da mãe em relação ao marido, a relação primordial entre o casal reduzida ao esqueleto da fuga da solidão: não há aqui uma espécie de padrão, no pai passivo ou inexistente e a mãe que ama e que ao mesmo tempo se vinga? Na mãe que se encontra e se resolve no filho? Do filho que vai aprendendo a odiar e a ignorar o pai?

O que eu sinto, pessoalmente, é que a minha mãe raptou-me do mundo, proporcionou-me um mundo do tamanho do colo dela, filtrado pelo que ela me ia dando a conhecer, a ver o mundo de alto sem lhe poder tocar - e, a dada altura, não o estava preprarado para o fazer, já nem o queria fazer.

Pode parecer estúpido: mas eu acho que, mesmo tendo a certeza de que a minha mãe aprovaria sem grandes ondas a minha homossexualidade - o que duvido horrores, o mais provável era uma reacção neurótica e o lamentar eterno da sexualidade do filho, coisa que não podia, pela vergonha, comentar com as amigas - suponho que resolveria não lhe contar. O controlo da minha mãe é tão grande, tão subtil, a troca foi tão desigual (ela deixou-me, através do amor dela e por causa dele, o que ela tinha de pior - a insegurança, a necessidade absurda de amor e de protecção, o medo); que não ia suportar que isso se estendesse àquilo que ainda é um exclusivo meu - a minha sexualidade, a minha vida sexual. A minha mãe não vai saber, se depender de mim, da minha homossexualidade. É o meu último reduto. Não vou deixar que o sexo também seja jurisdição dela.