Eu namorei com uma rapariga aos doze anos. Fi-lo para igualar-me aos outros jovens da minha idade. Achava que estava na altura de namorar e escolhi a minha melhor amiga. Nunca houve nada entre nós sem ser beijos e amassos. Por ela tínhamos ido mais longe, mas eu quis porque, na realidade, não sentia nada para além de amizade, apesar de não ter consciência disso. Para mim aquilo era paixão. Na altura eu não sabia que gostava de rapazes, apesar de ter tido pequenos sinais de que eles não me eram indiferentes. No entanto não lhes dei importância porque eu “era normal e a homossexualidade era uma escolha feita por pessoas com personalidades desviantes”. Não me culpo por ter pensado assim porque não tive a oportunidade de pensar de outra forma antes dos dezasseis anos.
Aos quinze anos aproximei-me de outra rapariga, a R., e desta vez o sentimento era mais maduro. No entanto também não era paixão e muito menos amor. Daquela vez eu convenci-me à séria que gostava dela e dei-lhe esperanças, mas nunca trocámos um beijo porque ela era tímida e eu… também. Foi essa a desculpa que arranjei para mim próprio. A R. afastou-se porque deve ter percebido que o que sentia por mim não era recíproco. Fiquei triste e zangado por ela ter-me descartado de uma forma tão abrupta. Desde que eu percebi que o comportamento dela para comigo tinha mudado sondei-a várias vezes, mas ela nunca se abriu comigo. Hoje em dia percebo-a e não sei se teria sido sincero com a R. se ela me tivesse questionado sobre as minhas preferências sexuais, pois eu ainda não as tinha assumido para mim próprio. Provavelmente foi melhor assim, mas ainda lhe guardo algum rancor pela forma como me desprezou. Eu criei uma ligação com ela como não tinha criado com mais ninguém até à altura e, de um momento para o outro, ela atirou a nossa amizade pela janela e trocou-me por outras pessoas. Desde então falámos meia dúzia de vezes, mas as coisas nunca mais foram as mesmas. Ela mudou. Deu lugar a uma rapariga mais altiva e vaidosa. No fundo sempre se sentiu culturalmente superior às pessoas que a rodeavam, mas nunca tinha tido a oportunidade de ser ela mesma. Há pouco tempo visitei o Facebook dela e fiquei desagradado com o que vi. A menina humilde e querida que conheci já não existe. Tenho pena que as coisas tenham terminado assim, mas não sinto a falta dela.