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Citações de livros
sleepy_heart:
Shimamura encarava a coisa seriamente. Se pretendia ter apenas relações de amizade com ela era porque tinha razão para preferir ficar à beira, em vez de mergulhar a fundo.
Mas por detrás de tudo isto agia uma espécie de encantamento, produzia-se uma soberania dominadora, bastante semelhante àquela que o havia fascinado em frente do espelho, com o seu fundo de noite, no comboio. É certo que Shimamura pressentia as complicações que uma ligação com uma jovem de condição tão equívoca podia arrastar; mas era sobretudo a uma espécie de irrealidade que ele cedia, a esta curiosa sensação de diáfana transparência que ela havia suscitado nele, tão próxima da poesia do estranho reflexo que tinha contemplado no espelho; (...)
Este ballet, a que jamais assistira tornava-se para ele uma espécie de arte ideal, um sonho de um outro mundo (...). Para quê arriscar-se a presenciar realizações decepcionantes, enfrentar o ballet concretizado em espectáculo, se a sua imaginação lhe oferecia o espectáculo incomparável e infinito da dança sonhada?
"Terra de neve" de Yasunari Kawabata
Lilium¥:
Este país (Portugal) preocupa-me, este país dói-me. E aflige-me a apatia, aflige-me a indiferença, aflige-me o egoísmo profundo em que esta sociedade vive. De vez em quando, como somos um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa.
Jornal de Letras, Artes e Ideias (1999)
José Saramago
Lilium¥:
Viagem
"Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar.. .
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos.)
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura.
O que importa é partir, não é chegar."
Miguel Torga, Câmara Ardente
Sappho:
Tenho errado como as pedras num charco
não acerto nem perto da margem onde me
deixei sentada a ser gente
Está tudo por baixo deste chão, destas formigas,
destas aberturas dos dentes
uma realidade demasiado existente, quase sonhada,
quase real
É por isso que me deito entre este peito e o sol
na minha cabeça e sou cisne ao contrário.
Não tenho nada a acrescentar, se os dias se
matam em círculo
e eu tenho de ir recta para alcançar um fim
e depois ser toda começo.
Não sou mulher que se encontre em metades
nem em pequenos e médios todos
prefiro ser só eu, só falésia absoluta
absoluta coisa nenhuma
Por isso preparo-me para ser digna fenda
em gloriosa cadeira de marquise,
empenhada solidão
Mas não desisto de acompanhar as horas
nem o destino que me vem à boca,
nem as plantas que mato de amor
se o mistério de tudo latejante nas paredes
é o interior que me faz acordada.
ver no escuro, Cláudia R. Sampaio
MónicaCarvalhoCasas:
--- Citação de: Spektrum em 22 de Agosto de 2014 ---"Amo-te tanto que te não sei amar, amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro, se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita, se o nosso casamento definhou de mocidade como outros de velhice, se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo dos teus projectos e do redondo das tuas nádegas, se sufoco da ternura de que não consigo falar, aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que não virás e desejando que venhas do mesmo modo que, como diz Molero, um cego espera os olhos que encomendou pelo correio." (pág. 40)
in Memória de Elefante (1979), António Lobo Antunes.
--- Fim de Citação ---
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