Olá olá,
Bem, com certeza já existem muitos tópicos sobre o assunto, mas como também não sei se se podem "reviver" tópicos muito antigos, optei por criar um novo (Dêm um desconto aos novatos por aqui

)
Vou aproveitar o espaço como local de desabafo e como meio para tentar encontrar quem esteja na mesma situação e possa ajudar.
Não sei dizer ao certo quando é que começou, especificar datas ou idades, mas a verdade é que me lembro perfeitamente de em criança ter todos os comportamentos típico da maioria dos rapazes da minha idade. Eu não queria mascarar-me de princesa no Carnaval: eu queria ser um pirata. Eu não brincava com bonecas, preferia os carrinhos e o futebol. E o que dizer sobre a minha paixão pelas artes marciais? Mas a verdade é que nada disto determina necessariamente que estamos perante um rapaz. As crianças devem brincar com o que bem lhes apetecer sem que consideremos que estamos perante uma criança do sexo oposto àquele com que nasceu biologicamente. Mas a partir do momento que a criança começa a insistir que é um rapaz, obriga os colegas a chamarem-lhe Diogo e assina todos os desenhos como Diogo... Talvez estejamos perante uma situação que não se resuma à preferência por certas brincadeiras em detrimento de outras. Talvez estejamos perante uma situação que deva ser ouvida com atenção pelos pais... Mas eu não fui. Apesar de acreditar que tenha sido mais por desconhecimento do que por outra coisa.
A adolescência foi um inferno na terra. A maldita biologia fez questão de aprontar comigo. Quando o peito começou a crescer e a primeira menstruação apareceu, um balde de água fria caiu sobre mim. Apesar das tentativas desesperadas de ocultar estas evidências da natureza (ao usar casacos no mais alto verão só para não andar de T-shirt para não se notar tanto), as insistências constantes dos meus colegas do 5º ano em ridicularizar-me por ser "demasiado arrapazada" contribuíram significativamente para eu tomar uma decisão. Eu tinha de aceitar o destino. Tinha de fazer os possíveis e os impossíveis por me aceitarem, mesmo que isso significasse mudar a minha maneira de ser. As escolhas de roupa tornaram-se um pesadelo, já que eu só gostava dos modelos mais masculinos mas forçava-me a mim mesmo a só comprar se fosse na secção feminina. Ninguém poderia implicar comigo se a roupa tivesse uma etiqueta que dissesse "mulher" ou "menina" (eu era um idiota, sim, vamos reconhecer). Foi a partir do 9º ano que voltei a adotar um visual mais descontraído, sem me preocupar tanto com o que diziam (apesar de ainda assim continuar-me a forçar a comprar roupa na secção de mulher para "não parecer mal").
Tudo isto refletiu um esforço sobrenatural da minha parte para ser aceite na sociedade, para não ser posto à margem dela. Mas no meu interior, sempre mas SEMPRE desejei que numa próxima reencarnação eu pudesse nascer no corpo certo. Não me importaria de nascer exatamente no mesmo meio, rodeado das mesmas pessoas, mas só queria nascer num corpo masculino. Eu costumo dizer que se a vida fosse um jogo do The Sims 2, poder ter um corpo masculino seria o meu desejo platina, que uma vez concretizado eu ficaria eternamente feliz toda a minha vida. Mas durante 20 anos acreditei que fosse algo impossível de se vir a realizar.
Até ao final do ano passado. Já não me lembro exatamente como mas dei comigo a ver vídeos de pessoas exatamente na mesma situação que eu. Testemunhos de outros que tinham nascido no corpo errado mas que, diferente de mim, tinham investido na própria felicidade em vez de se preocuparem com o que os outros pensariam. Eu estava determinado a realizar o meu desejo de vida: começar a transição. Mas o que pensaria a minha família? Os meus amigos? Iriam aceitar-me? Como começar o processo? Será que no público haveriam médicos conscientes da situação? E se o médico me julgasse e tentasse "curar-me" à força? Afinal uma coisa é vivermos 20 anos convictos que o nosso caso não tem solução. Outra, é descobrirmos que o sonho de uma vida que julgávamos impossível está ao nosso alcance.
O coming out foi feito progressivamente. Usei umas estratégias com umas pessoas e outras com outras. Num dos casos, levar a pessoa a refletir o que significa ser homem/mulher. A procurarem definições. Dando as voltas certas, a pessoa vai concluir que não podemos considerar que isto é determinado pelo sexo biológico. De seguida, falei sobre o meu caso concreto. Noutros, levar a pessoa a refletir sobre a felicidade e levá-la a concluir que cada pessoa tem o seu próprio conceito de felicidade. De seguida, falar do meu.
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Salte para esta parte se tem experiência no assunto mas preguiça de ler
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Estou no momento com alguma necessidade de partilhar experiências com outras pessoas na mesma situação, sejam elas FtM ou MtF.
Até ao momento, o que fiz foi falar com alguns amigos online e contar-lhes a verdade (a internet é um sítio fantástico onde sempre fui o Diogo), com a minha prima e com uma amiga da real. Aos poucos, tenciono ir contando a outras pessoas do meu círculo de amigos e família.
Marquei uma consulta no medico de família mas a vaga que tinham mais próxima era só dia 19 de Maio (como assiiiiim?? mais de um mês à espera, eu fiquei em choque) e será só para reencaminhar para a sexologia. Fora o tempo que depois deve ser preciso esperar para ter consulta na sexologia. Fora depois o intervalo entre as consultas. E a lista de espera para o endocrinologista?

vou pirar com estes períodos de espera todos.
Alguém com experiência no processo de transição? Informações sobre o processo via público em Coimbra? Alguém com paciência para aturar um chato que quer saber tudo sobre o processo desde os tempos de espera aos melhores cirurgiões?
(Sorry pelo texto grande, há algum tempo que pensei desabafar aqui mas fui adiando, adiando, adiando. Mas já chega de adiar fazer as coisas na vida)