olá pikachu...
estive a ler os pots anteriores deste tópico e só depois reparei no quanto as minhas palavras podem ter sido vazias aquando de uma resposta minha a um tópico que tinhas aberto, que falava sobre a situação no trabalho, que não sabias como as pessoas iriam lidar... e agora li que és trans, talvez esse facto viesse alterar o meu discurso, e posso ter dito uma data de inutilidades (embora a minha intenção fosse apoiar).
quanto a este tópico, antes de mais quero dar-te os parabéns. Acredito que tenhas tido momentos na tua vida pesados, e acredito que deves ter muita força para conseguires gerir tudo o que tem acontecido. Fiquei muito tocada com as tuas palavras, imaginando, especialmente, a situação de estar num casamento e não se corresponder (não se poder correrponder) ao que o outro espera de nós. Admiro a força que tiveste/tens para seguir em frente e decidir o melhor para ti.
Não terei muito para falar sobre mim, sobre a minha vida e o que mais me marcou até hoje. Na verdade só me assumi o ano passado, é muito recente, mas tenho sido bem aceite. Conto um ou outro episódios de discriminação, mas nada por aí além. Outro dia estava a ver um canal, não sei ser era a Odisseia, Pepole+Arts (...) e deparei-me com um documentário sobre um homem espanhol que foi denunciado pela própria mãe. Ele anda pelos 40-50 anos nos dias de hoje, e quando ainda vivia com a mãe, tvz há 20 anos, foi denunciado por comportamentos homossexuais.
Na verdade era a sua orientação, não meros actos fisicos que buscavam o prazer. Ele acaba por ser preso, por sofrer nas mãos da "lei". Quando é liberto, saí com um cadastro onde está assente um estatuto qualquer -não recordo o nome-, que designa que aquela pessoa é um perigo para a sociedade. Graças a este papel e à situação de ter estado preso, ninguém lhe arranjou emprego, o que o obrigou a recorrer à prostituição masculina.
Como se tudo isto não fosse suficiente, entra na história uma brigada de patrulha extremamente violenta, que actua à noite, nas zonas dessa mesma prostituição... Este documentário mostrou-me o quanto a vida é rude. Foi há anos atrás, hoje em dia em Espanha, Portugal ou noutros países (+-) evoluidos, democráticos, provavelmente não tivesse esta dimensão... De qualquer modo, vi que não passou assim tanto tempo quanto isso tudo... Quero dizer, hoje a situação dos homossexuais no nosso país pode não ser das melhores... mas não assume as dimensões hediondas da vida deste senhor. Eu agarrei a almofada ao ouvir os relatos, o momento em que a mãe o voltou a ver, o abraçou... e ele sem expressão, sem movimento... sem reacção... afinal, foi ela que o denunciou... e por causa dela ele enfrentou um pesado inferno por anos... sofreu na pele, sofreu na mente... o estigma, o pecado de amar homens, ter que perder a dignidade sendo prostituto para conseguir ter $ para comer... Fiquei impressionada. Foi dos relatos que mais me marcou... e que mais me fez pensar sobre nós... e sobre o mundo (tirei algo de positivo: no espaço de 20-30 anos as situações sofreram grandes alterações... e para melhor... mais um motivo para não perder a calma, nem a esperança).
Beijos a todos