Para mim a melhor reacção que tive (embora felizmente tenham sido praticamente todas boas) foi a da primeira pessoa a quem contei. Foi à Liliana, a primeira amiga que fiz na faculdade. Não tinha programado contar nada, mas ela era tão aberta em relação ao tema da homossexualidade, que simplesmente saiu-me um dia de repente.

Fez um festanço autêntico, pôs-se aos saltos e a bater palmas e abraçou-me. Digo sempre que não podia ter pedido mais ou melhor...

Liliana, onde quer que estejas, sabes que terás sempre o privilégio de ter sido a primeira pessoa a quem contei algo tão pessoal e tão importante para mim (e isso deve-se muito a ti e à tua grande abertura!) e quão te estou grata por teres-me dado uma experiência tão positiva.

A pior... hum... no primeiro lugar do top 3 estão os meus pais. Foi um grande choque para eles e reagiram muito mal tendo tido uma fase de negação bem prolongada (que agora felizmente está, parece-me, quase terminada). Com todo o estereótipo e mitos que existem sobre a homossexualidade não conseguiram propriamente equacionar isso com a pessoa que sou e, depois, ainda por cima a minha mãe projectou-se sempre muito em mim, porque somos muito parecidas. Tenho pena, porque gosto muito deles e sempre tive uma óptima relação com eles (a melhor entre os meus irmãos). Apesar de não estar tudo bem, vejo que fazem um esforço e que nunca deixam de fazer-me saber que gostam muito de mim. Não é perfeito, mas é algo bastante positivo.
No segundo lugar do top 3 está a minha madrinha de crisma. Tive a infelicidade de perguntar-lhe o que achava da homossexualidade (nunca tinha adoptado essa deixa para assumir-me, nem voltei a fazê-lo...) e ela deu-me um resposta muito negativa e muito acalorada. Ficou meio embaraçada contudo quando lhe disse que era. A sua posição foi de contra (digo foi, porque não sei se ainda é, não falamos sobre o assunto há um par de anos, embora suspeite que por motivos religiosos, entre outros, ainda seja a mesma), mas teve respeito e não deixou de ser minha amiga. Contudo essa barreira invísivel para mim estragou completamente a nossa amizade e afastámo-nos desde aí. Não convidou a minha namorada de quase 3 anos para o seu casamento (que contudo não pude ir de qualquer modo) o que me deixou parcialmente triste e ofendida, porque é o mínimo que exigo de quem se diz meu amigo, ou seja, o reconhecimento da minha relação amorosa.
No último lugar do top 3 foi a alguém que mal me conhecia (e a primeira vez que disse a alguém que mal me conhecia). Tinhamos amigos comuns e ela teve algumas dificuldade em gerir a informação.

Quando lhe disse, perguntou-me muito perplexa se eu me "sentia homem", ao qual respondi "Não, sinto-me mulher"...

Mas meses mais tarde quando estávamos compras com grupo de amigos numa loja de roupa para homens (um deles queria comprar umas calças), virou-se para mim e perguntou-me "Gostas de roupas de homem?", ao qual respondi a verdade (percebendo a sequência e a lógica dentro da sua cabecinha, contudo) que não tinha interesse em usar nada em específico, mas que havia algumas coisas que achava engraçadas, ao que ela me responde "Ah, eu não, eu só gosto de roupa para mulheres"...

Ao qual eu respondi com meio um encolher de ombro...

Nem entrei pela argumentação que a consignação de um tipo de roupa como masculino e outro como feminino é uma convenção social e por isso artificial...

Esta situação nem é digna de ser contada como negativa, mas é cómica porque mostra como a falta de informação e conhecimento pode ser grande. Mas olha, ali estava eu para lhe mostrar que as lésbicas não são mulheres que se sentem como homens (nesse caso seriam uma pessoa transexual F-M) e que por ser lésbica não tenho necessariamente de gostar de usar roupa "dita" de homens (apesar de haver quem goste).
